A Júlia ML deixou aqui uma frase tremenda, no sentido de acreditar que quem não seja bom dançarino esteja condenado à incompetência entre lençóis. Tenho de me insurgir, confessando, desde já, ser um incorrigível pé de chumbo, mau marchador até na tropa. Mas quem não queira arrumar a minha indignação nessa ordem de razões, oiça o argumentário que segue:
A aproximação do erotismo e da dança enraiza-se no nosso imaginário, ancorado na Antiguidade, em que os transes das Bacantes, quer em passos de bailados hieráticos, quer orgíacos, favoreciam o abandono dos corpos com um fito comum. A osmose esbatida deles nas danças em que se agarra o outro mais não fizeram do que reavivar um fogo mal apagado.
Durante bastante tempo a dança mais difundida era com espaço de permeio, até que de Paris (ou Versalhes) voltou a moda de juntar os corpanzis. Os emblemas imorredouros da tendência são a Valsa e o Tango.
A primeira corresponde a uma antiga forma provençal, esquecida até que da Polónia, via Viena de Áustria, foi reintrodzida em França, na Corte de Luís XVI, pela Princesa Lubomyska, uma das favoritas de Maria Antonieta. Se a Aristocracia mergulhou nela por essa via, tanto o Teatro como a Ópera - que, à altura - era popular - contagiaram as demais classes e a Revolução atreveu-se a derrubar muitos costumes, mas, ciosa de populardade, incentivou esse. Onde os Franceses se faziam alegremente pegajosos, a Sociedade Victoriana Britânica veio a aderir a tais passadas com a habitual fachada puritana, só faltando a fita métrica na vigilância de Boa Sociedade que incidia sobre o intervalo entre os dois dançarinos.
Mais tarde, a celeuma acerca da capacidade erótica passou para o arrivista Tango, interditado pelo Cardeal Amette. Até na livre Itália, uns quantos prelados fizeram dele uma queixa ao Papa. Este, S. Pio X, que além de um Santo, era um Génio, eximiu-se a qualquer medida contra um movimento que nunca observara. Como a loucura proibicionista não entende a ironia, trouxeram um par exemplificador para que o Sumo pontífice pudesse aperceber-se da malignidade da coisa. Finda a exibição, Sua Santidade não só não lançou o anátema, como com compaixão digna do Cargo, troçou bondosamente de "ser só aquilo o que motivava a fixação de tantas noites e dias". E mais disse, que, no seu tempo de juventude, em Génova, se deleitavam com outra mania, a da Furlana, essa sim difícil de executar, por não se poder camuflar com as pernas ou o corpo do parceiro os erros. E mandou o secretário arregaçar um pouco a sotaina e demonstrar. Não foi prédica tão inocente como se julga, sabendo-se que à forma dançante em questão, a da imagem, é pacificamente atribuído um significado de desafio excitante.
Portanto, Querida Amiga, bailaricos e erotismo amalgamados, tudo show off! Já compreenderia mais a afirmação referida à execução de uma música em dueto, como a que descreve Sandor Marai em «As Velas Ardem Até ao Fim»...
A pintura é Tango, de Yutao, numa versão que espero do agrado do Mike.
11 comentários:
Mau, mau, Maria!
Primeiro a Rachel Herz sugere que antes de nos aceitarem as mulheres devem-nos cheirar para reconhecimento de compatibilidades.
Vem agora a Júlia ML sugerir que, compatibilidade verificada, as mulheres nos obriguem a executar a dança do acasalamento para certificação de competências?
Mas onde vai isto parar?
É do meu agrado, sim senhor. A pintura e o texto. Mas nada de acreditar em tudo o que a menina Júlia diz, caro Paulo.
Abraço.
lololololololololol
eu adoro dançar! quanto ao resto não sei...
Bom, lá vou eu subscrever por inteiro a teoria da Júlia e a da Rachel Herz :-D
Acho mesmo que um homem que saiba dançar bem é melhor... pois :-p
E o cheiro... hum... o cheiro sempre foi fundamental para mim!
(risos a explodir em gargalhada)
:-)
Querido Paulo, adoro provocar-vos e o objectivo foi conseguido :-P
óbvio que nada é tão linear como eu referi em passant. Só não retiro uma palavra do que disse no aspecto da sincronia sensorial.
Tudo isto para dizer que eu gosto muito de dançar, embora não possua conhecimentos técnicos, sei que se estiver atenta ao meu par, a dança fica bonita :-)
será que ninguém me entendeu? :-(
Querido Paulo, ora aqui está um assunto em que não consigo ser taxativa :), parece-me que há de tudo, mas normalmente os bons/as dançarinos/as, dão boas camas, o que não quer dizer que seja condição sine qua non..
De resto o domingo até não correu mal, o nosso Glorioso lá arrecadou mais três pontinhos que é o que interess :)
Beijinho
Meu Caro Pedro Barbosa Pinto,
parece-me que as provas ainda vão ser mais rigorosas do que para as Tropas Especiais. Ao menos aí suar até é bem visto e as cadências das passadas ritmadas são mais fáceis de cumprir.
Meu Caro Mike,
ainda bem, pensei que tanto corpo Te não seria indiferente. Quanto à picadela da Julinha, cá tinha de responder com a rotunda contestação.
Querida Lady Bird,
decerto algum felizardo poderá avaliar com conhecimento de causa. Segundo a Júlia, está meio-caminho andado.
Huuuuum, que coisa! Anda um homem a espremer-se para explicar as profundezas em que se inscrevem estes preconceitos e a D. Fugi ignora-me olimpicamente. Pronto, vou dedicar-me à pesca!
Querida Júlia, dança em que entre fica bonita independentemente de qualquer aplicação da Sua atenção, bastam as que se concentrem em Si.
Querida Ariel,
isso é como dizer que um bom futebolista é, forçosamente, um excelente jogador de andebol e de hóquei, se é que me faço entender...
Beijinhos e abraços
lol lol lol
Querido PCP, só o podia fazer, ora!
Pois se gosto do cheiro e da dança...
:-p
Concordo com a Júlia, Paulo. Para uma mulher, não é importante que o homem seja um bom dançarino, conhecedor de todos os passos e técnicas. Mas é essencial que dance bem com ela. ;-)
Caro Afilhado,
Puxo dos meus galões para dizer, e em relação a uns certos seres masculinos que se afiram "pé de chumbo", que bastará encontrar a parceira certa para dançar bem. E por dançar bem não será necessariamente ao estilo do Nuriev ou de "deuses" desse gabarito. Mas a dança (a dois) é boa se forem dois a dançar. Por experiência falo. (riso)
A associação de dança ao erostismo e vice-versa refuto-a completamente. A dança pode servir(e serve) para variadíssimos sentimentos. Torná-la exclusiva de rituais de casalamento é, no mínimo, redutora e até, digo eu, ofensiva.
A título de exemplo, e enquanto as Crias não entraram na fase de que "dançar com a Mãe é foleiro", muitas e boas danças tive eu com Elas, devidamente empinadas nos meus pés ou abraçadas no meu colo enquanto rodopiávamos alegremente.
(perdoe mais uma vez a extensão)
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E poucas coisas me fizeram mais falta que uma dança com o meu Pai no dia do meu casamento.
Um bom dia e uma boa semana
Querida Fugi,
hã, pois e há talvez um terceiro gosto...Eh pá, Paulo, cala-te ou ainda tens um desgosto!
Querida Luísa,
ora, há tantas voltas que se pode dar na vida, sem andar a rodopiar na pista!
Querida Madrinha Nocas, investida do Sumo-Sacerdócio da celebração da Dança,
note, eu gostaria de ter mais jeitinho, infelizmente as raízes que criei não ajudam nada...
Mas subscrevo a despromoção que é assimilar esses desafios à gravidade a pré-preliminares...
Beijinhos
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