quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Chamaram-Lhe Eterno...

A permeabilidade absoluta ao Ideal, uns lhe chamam, com menos razão do que os que detectam no mesmo culto a aspiração a aprisionar a Essência que precisa do Plural hiperbólico para se oferecer como conceito. Que sobeja então, de uma sensibilidade receptiva que os menos vocacionados apodam de faqueza, ficando reservada àqueles que insistem em procurar a faculdade de deixar-se prender, quer por oscilarem entre destrinçar ao ponto de particularizar uma atracção, ou, bem pelo contrário, em assimilar o encanto à totalidade do Género. Com agravante de o circuntancialismo concreto de uma vida poder levar ao sentido da dulcíssima mas consumptiva tirania da indistinção.
De Guedes Teixeira,

Não ha mulher que não tenha um encanto,
Todas são bellas seja no que fôr:
A alma, por mais occulta, em qualquer canto,
Ha de romper e dar a sua flôr.

Mas quando nada dê, temos, no entanto
Em nós poder de tudo lhe suppor,
Desde a pureza, se esse amor é santo,
Ao mais, se o nosso amor é bem amor.

Entre as negruras de que nos rodeia
A vida, pode uma alma ser perdida?
Criatura d´amor que seja feia?

Sonho que eu vivo e por que ha tanto chamo!
Quem me dera, atravez da minha vida,
Encontrar, afinal, a que eu não amo!

14 comentários:

LeniB disse...

Belíssimo poema...

cristina ribeiro disse...

Eterno e múltiplo, não é? :)
Beijo

Paulo Cunha Porto disse...

Querida LeniB,
para um ainda mais Belo Tema. Fico muito feliz com tal aprovação.

Múltiplo, sem dívida, Cristina, nessa tensão entre o Único de cada caso e o feérico da Matriz comum.
Beijinhos

Marie Tourvel disse...

Estou encantada, querido.
Beijos!!!

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

Querido Paulo, eu conheço algumas feias, (poucas,é certo) por fora e por dentro..
também não vou nessa do eterno feminino nem de belo supremo, são chvões que na prática por vezes caem pelo cano do esgoto .

Mike disse...

Muito bem carpida esta, caro Paulo. E não concordo com a Júlia. As mulheres são todas bonitas, depende dos olhos que as olham e da química que se gera. Química e, claro, física.
Abraço.

Maria de Fátima Filipe disse...

Querido Paulo, o poema é muito poético :))))... mas não concordo. Ele há cada más rez.....
Beijinho

ana v. disse...

A idealização é sempre perigosa... faz com que sejamos incapazes de aceitar os que amamos com os defeitos que têm, querendo à força que sejam perfeitos.
O soneto é muito bonito, mas acho que tem de ser lido à luz do seu tempo, que não é este.
Bjs

Anónimo disse...

Beware, My Friend! Beware!

"Any man who can write a page of living prose adds something to our life, and the man who can, as I can, is surely the last to resent someone who can do it even better. An artist cannot deny art, nor would he want to. If you believe in an ideal, you don't own you, it owns you."

Raymond Chandler

Abraço.

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Marie,
Encantada decerto, mas no sentido de Portadora do Encanto...

Querida Júlia,
um velho Amigo da Família, conhecido por teorizar a Atracção Feminina quasi-universal )(e agir em consequência), posto perante a hipotética ausência de qualquer apelo num ente subsumível, ainda assim, ao Belo Sexo, arrumou a questão: "isso não é uma Mulher, é um monstro!".

Meu Caro Mike,
Oh sim, cada paixão é um processo de síntese que quer apropriar-se do Todo!

Querida Ariel,
e não é estranho que as que assim consideramos consigam ser queridas por outros?

Querida Ana, estás assim tão céptica quanto à intemporalidade do Interesse despertado pelas Filhas de Eva? Ou é o feminismo residual a querer configurar a nova distribuição das inserções em oferta e procura que tornam incompatíveis a abstracta pincarização e o individualizador totalitarismo das concretizações?

Meu Caro Mialgia,
como sempre digo, a única liberdade que importa é a de escolhermos as próprias prisões. E um Ideal é a mais compensadora delas, na medida em que nos dá a ilusão de termos sido nós a construí-lo, nem que fosse pelo simples mérito do reconhecimento. Mas na minha insuficientíssima prosa tentei alertar para a perigosa tensão de nos deixarmos enlevar, por uma fidelidade genérica (sem inocência, a palavra), face à exigência da cada caso.
Beijinhos e abraços

Anónimo disse...

Meu Caro Paulo,

Posso concluir que coloca o Ideal no plano do Inantingível?

Abraço.

Paulo Cunha Porto disse...

Não era essa a intenção, Caríssimo Mialgia, senão sublinhar o quanto o apreço direccionado a um tão largo número pode fazer desvalorizar, na aferição de uma Interessada Particular, os protestos de afeição por Ela só que sejam proferidos.
Abraço

LADY-BIRD, ANTITABÁGIKA, FÃ DO JOMI LOL E JÁ AGORA DOS NOSSOS AMIGOS ANTI-TECNOLOGIAS: MARCHANTE (se não existissem tinham que ser inventados) disse...

Caro Paulo, não sabe que:
Não há Bela sem "senão"!
lol...mas também digo uma coisa, há muita gente realmente perfeita, que por dentro é um mostrengo...lol... de tal maneira que quem olha para elas, até lhe parecem feias...

Beijinho

Paulo Cunha Porto disse...

E, no entanto, Querida Amiguinha, não percamos de vista aquele ditado "há sempre um chinelo roto em que caiba um pé aleijado"...
Beijinho