sexta-feira, 31 de outubro de 2008

À Tio Patinhas

Uma coisa que me irrita solenemente é ver a Miudagem ataviada de bruxa, monstro ou fantasma, no 31 de Outubro. O Halloween, por cá, é clara rendição ao poder mediático das tradições anglo-saxónicas, que não reconhecem, salvo em meia-dúzia de cidades com Nova Orleães à cabeça, a importância simbólica e costumeira do Carnaval, período que também não aprecio, mas que, ao menos, é nosso. Deixarmo-nos penetrar por uma fantasmagórica crença irlandesa, ampliada recentemente nos States, é uma forma mais de nos desvincularmos da nossa Herança. E a duplicação de práticas atenta contra o carácter único que informa a essência do Adeus à Carne.
Mas sucede que hoje é também o Dia Mundial da Poupança. E conjugando a atmosfera de crise financeira com a palhaçada de Doce ou Partida! que se quer ensinar às crianças, sugiro esta fantasia. Quem se atreveria a resistir? O garoto que a envergasse teria por garantida a barrigada...


Abençoado incitamento a poupar, que me permitiu concentrar dois temas num só post!

Paradoxos do Marketing

Se há coisa que me deixa zonzo é o ilogismo das fortificações de Lisboa: quando se pretendia proteger a cidade da entrada incontrolada de mercadorias, fez-se um baluarte como este, inicialmente uma dependência alfandegária:


No momento em que se quer escancarar a urbe a importações, vai-se edificando uma paliçada que será tudo menos atraente:

Só pode ser uma confusão fonética, onde se tenha falado em pôr de pé uma nova muralha, ter-se-á percebido uma instrução para envolver a povoação por uma mortalha...

Perder a Razão?

Quando Joseph de Maistre despromoveu os adeptos da Revolução Francesa, dizendo-lhes Nada tendes por vós, salvo a Razão, não estava a diminuir o processo racional, mas antes a exprimir a concepção comum a qualquer ser humamo que se sente constrangido diante de alguém que não amenize o raciocínio estrito com heranças, gostos arbitrários, fidelidades, sentimentos, enfim. Daí surgiu a expressão de clivagem Fulano é um monstro de racionalidade.
Como também na Religião Católica sempre se procurou reconhecer-lhe um papel importante, mas sem cair na armadilha da exclusividade. Numa historinha do Padre Brown, ao ser perguntado pelo maior ladrão do Mundo como descobrira o sacerdote criado por Chesterton o seu disfarce de vigário, a resposta é Você atacou a Razão. Isso é má Teologia.
Vem agora um estudo científico dizer-nos que o Amor e o Odio fazem muito do seu percurso pelo mesmo caminho. Nada que não fosse já sabido, frequentemente um se transforma no outro, embora mais amiúde o positivo no negativo. Mas ensina mais, que a principal diferença está na maior racionalidade comparativa do sentimento adverso. O que vem confirmar a intuição de arrepiar-se perante um ser demasiado racionall, que não quer dizer demasiado razoável.
Mas que o terreno é movediço já ensinava Mitchum, o dos dedos tatuados, em «The Night of The Hunter", de Laughton, filme em que gosto de o ver, coisa que não acontece em todos os que fez.

Menina Que Estás à Janela...

Calma, já vou! Tenho um blogue para actualizar! Eu bem tento variar o dia, mas a tirania das Sextas impõe-se, hoje por Brea Bennett! O meu consolo é saber que a Ana Vidal ao menos aprovará a cor da lingerie...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

How Very Typical!

Nestas coisas da Semântica, apesar de o Futebol encerrar como que um microclima, procuro sempre ter a humildade de estudar mais e de conceder uma certa Autoridade a Homens que até são Professores, como o treinador do Porto, Jesualdo Ferreira. Posto este preâmbulo, tenho de confessar o quão perplexo me senti com as declarações fresquinhas sobre terem sido atípicos os golos sofridos pelo futebol Clube do Porto, no presente campeonato. Tento esmiuçar a coisa e chego a quê? Que esta atipicidade quer dizer "de bola parada". Mas então, não há muitos golos marcados assim? Há. Em que são, pois, incaracterísticos? As diversas penalidades não fazem parte do jogo, às dezenas? Fazem. Atípico, portanto, como sinónimo de não ser costume assinalar muitas contra aquele emblema? Nada, geraria suspeição dizer que os árbitros poupam a própria equipa e poderia ocasionar rigores no futuro imediato.
Abalancei-me, angustiado, ao dicionário. E no verbete correspondente vejo que se diz atípico do fenómeno das febres intermitentes cujos acessos não têm regularidade. Era só um exercício de optimismo, o responsável queria dizer que o estado de coisas actual não se vai prolongar inalteradamente. O pior é que, até agora, já vai havendo uma consistência ininterrupta. Mas o sonho comanda a vida.
Assim se fala em bom Português.

Escapado à ASAE

Não quero discutir os méritos ou deméritos da legislação anti-tabagística, pretendo tão-só contestar a precisão linguística dos titulares de cargos de responsabilidade que falam em dados objectivos sobre o gosto dos portugueses por aquelas limitações. Por muito cientificamente criteriosa que haja sido a recolha, elementos sobre preferências são sempre subjectivos, o campo que abordam contamina-os de disputabilidade pessoal. E isto em quem faz gala de rigor, dizendo não se poder falar de especialistas em cessação tabágica!
É o mal das Democracias, não lhes basta o fundamento da Saúde, têm sempre de arranjar maneira de as medidas se impingirem como populares. Para quem nunca na vida fumou um cigarro, ou seja, este escrevinhador, mas se deliciou com uma dúzia de bons charutos, na esperança de materializar as promessas esfumadas que lhes via, é sempre de lembrar o que, a respeito, escreveu Burton:
Tabaco, divino, raro, superexcelente tabaco, que vais muito além de todas as panaceias, ouro potável e gemas do filósofo, soberano remédio para todas as doenças.
Mas podem responder-me que ele escreveu isso na «Anatomia da Melancolia», sendo o estado dissecado, afinal, o de muito fumador, nestes tempos do fim...

Casa Roubada

À primeira vista, até poderia concordar com as posições do BE, de se demarcar do apoio do Vereador Sá Fernandes a uma colega que se aproveitou de uma subvenção paga em espécie, qual seja a cedência de uma casa com contrapartidas irrisórias. Numa apreciaçõ superficial, até poderia endossar a vantagem em a acção de um autarca estar liberta de disciplinas, podendo governar com uns e apresentar iniciativas de outros. Mas para funcionar a sério esse estado ideal, seria preciso que as Vereações e Presidência camarárias não fossem eleitas em listas de partidos, mas sim "em nome individual". Porque, de contrário, os favores de pelouros e outras atribuições serão smpre pagos, na hora da verdade, com apoiozinhos solidários a ramas da força política que comanda, mesmo quando a Ética (a não ser que a Republicana seja um caso especial) imponha o contrário.
Mas deixo uma pergunta ingénua: a posição do Dr. Louçã, de não gostar mesmo nada mas continuar a apoiar o eleito, não é muito semelhante à deste, de estar com um pé na Maioria e outro na Oposição? Na esperança de, assim, não poder perder?

Três Como Poucos

A Ana Vidal, em comentário à Piquena de ontem, prevê para a rubrica que trata Os Prazeres e os Dias uma "roleta russa". Como sou muito bem mandadinho, já carreguei a arma; e destas não me importa ser a vítima. Digam por favor qual é o compartimento preenchido, para que eu passe à detonação fatal, em vez da conotação actual...
Infelizmente a Ruslana já não conta, por dramaticamente ter abreviado os seus dias.

A Marie Tourvel gosta de labirintos. Para que experimente dificuldades em sair de cá, de cada vez que apareça, ofereço-Lhe este, pouco conhecido, de que gosto muito, pintado por Robert Vickrey...




O Grande Companheiro dos meus blogues que é o Filomeno, antigo Çamorano, como extraordinário Cinéfilo que é, abriu uma sala própria, a que, modestamente, chamou Cines del Barrio. Convidando Todos os Amigos para a grande Estreia, marco o acontecimento com Cinema, de Lionel Jager...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Cruzes, Credo!

A demissão da directora do museu de Bolzano responsável pela exibição da tela menos do que medíocre de uma rã crucificada tem toda a justificação e mais alguma. Não pelo critério da ofensa à Religião - que não foi sequer o invocado -, embora seja muito engraçado que toda a gente possa sentir-se ofendida com um crucifixo numa sala de aulas e esteja vedado aos Cristãos insurgirem-se contra a representação grotesca que parodia o Símbolo sob O Qual se norteiam. De notar que a mesma senhora foi criticada por patrocinar uma exposição em que se destacava uma suástica e que o quadro da polémica poderia concitar a ira dos defensores dos direitos dos animais. Mas como a Igreja Católica é que faz correr atrás, seja com o círio ou com o cacete, já Buñuel dizia, é para aí que embicam.
A meu ver, o despedimento é mais do que justo, pelos gastos injustificados de que a acusam. Com efeito, não examinei as contas da instituição, mas qualquer mísero tostão gasto com trabalho pictórico tão mauzinho seria mais do que perdulário. Dir-se-á que é a minha opinião E eu responderei que é para a ler que aqui vieram. Se relevância se quer atribuir a algum juízo, terá de ser endereçada a quem de direito, quer dizer, ao dos administradores. E esses concordam comigo, pelos vistos, embora sejam mais comedidos a fundamentar.
Não se pense que recuso valor artístico a qualquer obra concebida para provocar. Max Ernst pintou a Virgem a sovar o Menino, o que fez as delícias de muito ateu que gosta de afrontar. E até quem assina estas linhas, durante uma crise de Fé na Divindade de Cristo que hoje o envergonha, tentou irritar a Mãe, perguntando o que achava da obra. A calma resposta foi que a problemática da Hipóstase, com a Vertente Humana de Cristo, tornava perfeitamente natural que tivesse passado pelos correctivos que são comuns a muitas outras crianças. E mais me ensinou, por palavras outras, que a boa Arte é a que permite facilmente pensar o conceito que a fez, sem se dirigir ao primarismo das reacções.
Nada disso encontro no trabalho que levantou esta celeuma, pelo que me parece evidente que o propósito de tal rã se ter imiscuído no labirinto que vai sendo a Estética, seria o de, com o escândalo, apanhar as moscas que se concretizaram em alguma fama.

Inflação de Especialistas

Não é má vontade de comentador, é uma decisão de tribunal superior. A contratação de actividades periciais expressa em estudos e pareceres atingiu as proporções da enormidade. Nem é já, para além das mãos largas, o protelamento das obras e acções que o Estado se propõe realizar, motivado por infindáveis preparações, o que merece mais crítica. É, antes, a degradação da qualidade de um funcionalismo, que não integra os crânios necessários à apreciação que se encomenda por fora. Com a inerente duplicação de contrapartidas pecuniárias.
O mal nem é tanto estudar demasiado, é a necessidade de recorrer ao estudo de outros. Curto e grosso, não se lamenta tanto que os nossos organismos sejam marrões, mas, mais, que sejam cábulas com necessidade de repousar nos testes dos vizinhos.

Passado Deprimente?

Confesso que tinha receios sobre o que pudesse acontecer hoje na Bolsa. 29 de Outubro marca o aniversário do crash que originou a depressão maior, a de 1929 e, concordando toda a gente em que a Confiança está na base de toda a saúde económica, temi que anos vencidos sobre uma derrocada pudessem inibir um tanto os investidores. Até agora, no entanto, sin novedad.
Saltitando para a crise global, espero que não se reeditem os erros que transformaram a constipação dos Anos Vinte numa pneumonia quase fatal. A obsessão pelos automatismos de Hoover, salvo em disciplina orçamental, levaram-no a acreditar que o equilíbrio das contas teria automático efeito sobre a segurança dos particulares em matéria de rumo a dar ao dinheiro. Era aquilo a que menos ligavam. Ao aumentar impostos e reduzir despesa, fez parte considerável da Procura evaporar-se. As actuais autoridades americanas parece terem aprendido a lição de que a segunda atitude, por desejável que seja normalmente, não deve ter lugar em circunstâncias deste jaez. Mas quanto a aumentos tributários, há insinuações preocupantes nas intenções programáticas de Obama. Claro que as razões para esse incremento fiscal seriam menos prementes se os sortes de Bush, positivos como foram, tivessem tido a dimensão de um terço da que atingiram. Como defendi na altura, sem que alguém me ligasse.
Esperemos que o Velho Karl tenha razão e que a repetição do Trágico histórico não venha a ser mais do que Comédia.

A Verdadeira Call Girl

Já que dá pelo nome artístico de Le Call. Ao contemplá-la, fiquei a gostar ainda mais de Jack London, pois percebi-lhe o reconhecimento na minha pessoa do prestígio da liberdade selvagem: «The Call of The Wild», lembram-se? Wishful thinking, claro. E depois?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Captações

Dia do aniversário de Francis Bacon, pintor de que me incomodam os pressupotos da obra, apesar de reconhecer a sua força expressiva. Dos vários quadros que produziu, subordinados à temática especular, saliento este, Pessoa Escrevendo Reflectida Num Espelho, porque me parece contrariar uma velha ideia feita, a de que a obra passada ao papel espelha o Autor. Pelo contrário, quem escreve é que é um espelho do que aborda, por deformante que possa ser. Nenhum objecto reflector, aliás, nos devolve imagem que não saibamos invertida. É um reconhecimento da realidade, mesmo que alterada por esperado aprisionamento alheio, que nos faz mirar o nosso reflexo. O mesmo engodo que nos leva a procurar num texto o reconhecível, mesmo que com os lados trocados. Nesse sentido espelharemos, por nossa vez, uma imagem do criador de cada escrito, na atmosfera de casa de espelhos numa qualquer feira, em que o ente originário dos milhentos duplos se torna difícil de encontrar. E também acontece outro desvio, o de nos debruçarmos exclusivamente sobre o redigido, sem considerarmos o Autor, coisa de que não se compadece uma linha acabada, tornada ilegível por qualquer superfície que a devolvesse. Salvo em casos-limite como os das urgências que fazem recorrer a ambulâncias com os dizeres pintados de trás para a frente...

Tacada e Carambolas

Surpreendente pode ter sido, à primeira vista, o episódio do casal do Colorado que estacionando num take away, à procura de uns tacos com que matassem a traça que sentiam na barriguinha, foram presenteados com uma pequena embalagem de... Marijuana.
Uma explicação óbvia para o caso seria ter-se convencionado em alguma rede de tráfico o pedido de tacos como código para ser atendido em forma de cannabis por aquele distribuidor. Mas há hipótese mais preocupante,
qu-al seja a de o extra consubstanciar um acto mais de propaganda do fortíssimo grupo reivindicativo que pretende ver aquela droga legalizada, mesmo para além do uso médico. Tão persistente tem sido a campanha que chegam a adaptar os antigos cartazes com que se exortava à abstinência do consumo desse vegetal, invertendo a mensagem, como aqui demonstro graficamente. E ninguém me tira da cabeça que foi a recepção deste tipo de ideário que levou à nossa aba da abertura aos estupefacientes, com a descriminalização do consumo por anterior Governo Socialista.
Agora, se querem mesmo uma alternativa alucinada, ao estilo peculiar deste blogueiro, diria que, sendo os tacos uma comida Mexicana e sendo o grande País Centro-Americano a terra dos cogumelos alucinogénicos, havia uma tradição culinária a manter...

Unhas de Fome

A Jovem Doente, de Ary SchefferCem por cento de acordo com a intensificação dos rastreios. Já quanto à vacina, principiei por recebê-la com júbilo, até por ter Pessoas Que Estimo entre as atingidas por essa maldita doença. Entretanto, a Mão Amiga do Carlos Portugal enviou-me por mail informação sobre uma série de perigos que comporta, de vida, inclusivé, mas, sobretudo, de esterilidade, bem como outra, complementar, de os ramais da Indústria Farmacêutica que a produzem andarem a mover influências no sentido de a tornarem obrigatória.
Assim, que fazer? Não disponibilizá-la seria condenar muitas Mulheres. Há pois que acompanhar a facultação, sem imposições, deste meio preventivo por uma exaustiva informação dos efeitos secundários que pode produzir, bem como de todos e mais alguns testes de graus de incompatibilidade previsível dos organismos que os venham a receber. No primeiro caso, precisamente o que a notícia linkada não faz, ao reduzir a uma vaga referência à polémica todo o perigo mencionado. E, no segundo, o que o Estado não quer fazer, ao não suportar todos os exames médicos que se exigem. Isto é fazer das seringas umas garras afiadas que podem matar. Mesmo que sejam as reveladoras da mera sovinice mais irresponsável. Ou então, mais uma manifestação de indiferença por tudo o que afecte a Natalidade.


Amar o Próximo

Para superar de vez a querela entre Amigos dos Cães e Amigos dos Gatos. Os animais são como as pessoas, há os que se sentem bem em partidos e os que arriscam a vida para salvar mesmo quem é dado como estando do outro lado da barricada. Para os Leitores Sportinguistas, a satisfação adicional de o heróico cachorro se chamar Léo. E não digam que se deve a este baptismo alguma participação no envolvimento felino. Bruto também tinha sido adoptado por César, lembram-Se?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Telefonofobia

Sabe quem me segue há mais tempo da minha raiva surda, nas fronteiras da patologia, aos telefones. Cheguei a publicar um artigo primordialmente assestado ao perigo de servidão ínsito no uso de telemóveis, mas em que não poupava os antecessores de fio. E o tempo parece apostado em dar-me razão, como provam as últimas notícias. Na campanha eleitoral norte-americana chegou-se à degradação do eleitor a que se pede a confiança, com a triste moda dos telefonemas-robô, mensagens pré-gravadas, automaticamente enviadas para os números dos cidadãos tidos como terreno fértil. Se algum candidato, nos EUA ou na Patagónia, tivesse a lata de pôr um aparelho a tentar convencer-me da bondade do seu programa, com uma mensagem feita para um qualquer, imediatamente ficaria excluído das hipóteses de obter a minha preferência. Ou então, a terra a quem a trabalha, toca a eleger aquele que deu o litro!

Por outro lado, alertam-nos para a quase inevitabilidade de, com o aumento da componente de inteligência artificial dos telemóveis, estes virem a ser uma mina para os hackers, os piratas informáticos inseminadores de vírus, já que estão mais desprotegidos do que os computadores clássicos. Cada vez mais me convenço de que, tirando os progressos da Medicina, a única invenção de jeito, desde a Antiguidade Clássica, foi o autoclismo. Em matéria de telecomunicações, caminho a passos largos para acreditar que o estado ideal é o antevisto nesta premonitória pintura de Chamine: Desligado.
Sejam os bucaneiros os da Política, ou os dos teclados, não há dúvida de que a nossa paciência está a saque.

Romantismo ou Realismo?

Sobre o valor emblemático da vida sentimental contemporânea que mais sobressai nesta fotografia de Langfossen, a decisão aos (e)Leitores...

Campo de Santana

Que espanta que a liderança do partido seja entusiasta da candidatura do Dr. Santana e o eleitorado nem tanto? A primeira quer dar-lhe um osso para calá-lo, o segundo quer alguém que não abale ao primeiro com mais tutano que lhe ofereçam. Por muito baça que a gestão do Dr. Costa seja, está lá há pouco tempo, só nos funcionários terá gerado anticorpos, o que é bastante menos do que a figura do Dr. Soares tinha feito nos grandes bairros de Lisboa sequiosos de mudança, mas sem terem suficiente arrojo para colocar na alheta uma simpatia superior, como o Eng. Guterres.
O mal do ex-Edil e Primeiro-Ministro é ter medo que o esqueçam, quando devia desejá-lo. Do ponto de vista dele, em nada o favorecerá um abandono, o qual, por muito injusto que possa ser, acabou visto como um acto de ambição que, pelas questiúnculas e pelo acto castigador do Dr. Sampaio, é universalmente tido como longe de ter valido a pena, desde logo para o interesse público.
Mas a Cruz de Lisboa, enquanto espreita uma hipótese animada do vocábulo, é ser um aterro de políticos escolhidos por conveniência de jogos partidários, em vez de o ser por vocação autárquica genuína, que envolvesse conhecimento e previsível capacidade de decisão especializados.

Publicidade Enganosa

Tenho de agradecer à Nocas Verde ter-me chamado a atenção para um importante estudo científico que relaciona o consumo de café com a redução do tamanho do peito feminino. Esta reveladora pesquisa fez enfim luz sobre um duplo problema que me atormentava - o da razão de ser deste anúncio, bem como a causa profunda de enfileirar entre os mais odiados de sempre pelas Feministas. Com efeito, como poderia ser credível que uma qualquer compra de café acarretasse, por si só, reacção tão desproporcionada? Por outro lado, vê-se agora que o correctivo era apenas a capa que escondia as razões últimas da aversão dos movimentos que falam continuadamente em "libertar" a Mulher. Assim, já se percebe, o ódio aos sutiãs era tão profundo que chegava ao ponto de pretender eliminar os motivos deles. E não gostaram de ver a estratégia contrariada.
Quanto a ser correcto exceptuar-se ou não o produto propagandeado, deixemos que os cientistas o atestem Até lá, tomo-o por camuflagem de mensagens com maior grau de importância na estrutura familiar.

domingo, 26 de outubro de 2008

Brincar Com as Palavras...

Essa não, Fugidia, descubra as diferenças!

Fuga Para a Vitória

Eu sabia que a Naval estava bem classificada, mas não desconfiava de que tivesse um tão bom fio de jogo, como dizem os especialistas do Futebolês. Eu sabia que, depois da estafa de Quinta-Feira se teria de refrescar a equipa, mas não previa que logo três dos que (se) vêm mostrando mais, Katso, Di Maria e Cardozo saíssem, de uma penada. Eu sabia que Nuno Gomes está em boa forma, mas pensava que para um jogo em casa o Tacuara a jogar de início fosse coisa pacífica. O que eu não sabia é que os progressos da equipa já lhe tivessem feito dar o salto de conseguir reagir a um golo que as empatava, já perto do fim do jogo. Eu gostaria de saber como se articularão o Grande Ponta de Lança Paraguaio e Suazo, durante um jogo inteiro. Hoje, todavia, a substituição do Atacante Hondorenho por um colega que joga mais adiantado não foi, salvo na disposição das pedras, uma mera fuga para a frente. Foi, sim, a que reporta ao título (citação de um filme de guerra e futebol recheado de estrelas) e não diz respeito ao incidente com a Artista do vídeo, Colega da nossa Ariel.

Falta de Chá

Darumá, por Seikou Hirata
Nada como aproveitar um Domingo para confessar o quanto me chocou esta prescrição de chá (verde) para adelgaçar o corpo. Em princípio, seria um conselho nutricionista como qualquer outro, mas o certo é que não pude deixar de me recordar da lenda japonesa do surgimento do vegetal tão usado nas espalhadíssimas infusões. Teria ele brotado do voto piedoso de Darumá, de renunciar a todas as vaidades deste mundo e, de joelhos sobre o solo pedregoso, permanecer em contemplações místicas para redenção da humanidade, no resto da sua vida. Já sem pernas, gastas pelo incómodo da posição, sucumbira certo dia ao cansaço, adormecendo. Uma vez desperto, tão horrorizado ficou que, para não repetir a cedência à fraqueza, cortou as pálpebras, atirando-as para a terra. Elas teriam criado raízes e, desenvolvendo-se, corporizado o arbusto de cujas folhas se faz o chá. Ainda hoje a figura do asceta é motivo popular nipónico de muitas taças por onde aquele se bebe.
Não é chocante que se queira empregar o desdenhador das pavonices fúteis como propiciador dos kilos a menos que permitam fazer figura?

Missão Espinhosa

Compreendo perfeitamente que o tribunal francês encarregado de julgar a queixa do Presidente Sarkozy contra a empresa que comercializou o malfadado boneco/alfineteira com os seus traços tenha decidido esperar uns dias. É que os direitos sobre a imagem não me parece poderem vingar nesta circunstância. Não se está a usar a figura do Presidente para publicitar outro produto, ou a comercializar efígie dele pelos seus adeptos, como as t-shirts com rostos de actores e desportistas. Pode porém a iniciativa editorial ser condenável, caso os juízes considerem haver consequências reais nas práticas de Vodu. Aí, a empresa que comercializou o fantoche poderia ser acusada de instigação, ou, no mínimo, cumplicidade, de um crime de ofensas corporais.
Ser espetado é o fado das Figuras Públicas, Certo Deus Romano, via a sua estátua trespassada pelos suplicantes, os quais encontravam no expediente um aide-mémoire que os tranquilizava acerca da probabilidade de serem atendidos. E aqueles que enfiarem as agulhas no sarkobrinquedo podem defender-se dizendo ser uma prática de acupunctura que torne ao Chefe de Estado mais suave o exercício do cargo...
Teria alguma razão, caso fosse Rei, Quem não é posto no cume por alguém, contra os outros, tem como inerência uma certa sacralidade que se confundo com outros símbolos perenes do País. Um político eleito por facção, ao contrário, reafirma a sua vocação para alvo. E não se pode pretender que os dardos castigadores que lhe enderecem tenham de ser atirados à distância.

sábado, 25 de outubro de 2008

Amor Em Fuga

Alegoria Com Vénus e o Tempo, de Tiepolo
Muitos conhecem bem cedo o que a vida reitera e confirma, alguns demoram mais a ser surpreendidos, outros são prevenidos pelo exemplo alheio; e até nos casos de menos erosão a dúvida faz os seus estragos, pois este é o domínio em que, ao contrário de outras faixas e diversas rodagens, a ultrapassagem realmente custa. Será da essência de quem tem asas usá-las para atingir alturas que os demais não podem acompanhar, mas não é menos certo que os condenados à Terra num nível superior ao dos vermes têm igualmente uma natureza inescapável, a de continuar a tentar. Oiçamos então o que podia bem ser um Fado, saído da pena de António Feijó

O AMOR E O TEMPO

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu, subiamos um dia
Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adeante
E, com o tempo, acelerava o passo.

-«Amor! Amor, mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pôde com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Subito o Amor e o Tempo combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
-«Porque voaes assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» N´esse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
Tende paciencia, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!...

Na Minha Carapaça

A Tartaruga Magnífica, de Oxana ZaikaFiz o teste que a Margarida Pereira sugeriu. Torcia para que resultasse Gato, mas, afinal, pelo mecanismo ínvio da escolha de respostas a perguntas um tanto ou quanto arbitrárias, o animal que eu sou foi dado como... a Tartaruga. E a ele atribuída a sabedoria, julgo que extrapolada a partir da lentidão, aqui perspectivada como "ponderação".
Que sou lento, não nego, temo é que por motivos menos dignos de encómio, tais a preguiça ou a obtusidade. Mas o que importa neste momento é confrontar a fonte desse saber, invejável nos nossos dias, quando comparada com a associação que os povos primitivos faziam. Com efeito, também lhe atribuíam um carácter sábio, contudo, normalmente, a tónica incidia sobre a criatividade ou a capacidade de adivinhação. Quer dizer, a exploração das sensibilidades e a clarividência para além da própria época, cuja omnipresença ora esmaga, ora irrita. E isto leva-me a um hábito antigo, o qual, fiado na sobrevivência multissecular deste simpático bicho, fazia inscrever datas na sua dura protecção. Para mim, apaixonado da História que sou, privilegiando as viagens no Tempo, face às que percorrem o Espaço, esta concha desempenharia o papel equivalente nas paragens temporais ao das malas de viagem com os rótulos dos hotéis por onde entes viajados passam.
E na compreensão dos tempos idos concordo, enfim, com o valor emblemático que me calhou

Ironia da História

Não é que foram precisos trinta e quatro anos, com ocaso do Comunismo pelo meio, para que esta ameaça do PREC se viesse a concretizar?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vermelha Sim,

mas de sangue! Devo confessar que em matéria de atravessamento de ruas sou mais do que bárbaro. Incapaz, quando conduzia automóveis, de desrespeitar um semáforo para veículos, quando se trata de luzinhas snalizadoras dirigidas a peões ligo tanto como às iluminações de Natal que me não cativem. É que, desculpava-me, é completamente diferente pôr em perigo o Outro, quando couraçado, ou a mim, enquanto apeado, caso em que se algo corresse mal não se perderia grande coisa. A Mulher Alemã de um Grande Amigo meu, com os cabelos completamente em pé perante o desrespeito absoluto em que eu e o Marido despreocupadamente incorríamos, desejosa de nos dar um bocadinho de razão contra tudo o que tinha aprendido, não encontrou melhor do que dizer que... em cada Vermelho há, afinal, um bocadinho de... Verde.
E obrigar-me a cruzar o alcatrão nas passadeiras, pior um pouco. Sempre o fiz onde calhava. Agora tenho um novo argumento. Como 40% dos atropelamentos ocorrem nas protecções pintadas que deveriam ser eficazes e não há essas riscas prioritárias em toda a parte, as chances de sofrer um acidente caminhando de um lado para o outro da rua andam ela por ela, dentro ou fora das passagens programadas. De modo que o idealismo de defender crianças e outros desprotegidos deste maravilhoso trânsito português terá toda a vantagem em mudar as advertências de perigo para uma nova convenção, como a que se sugere.

Um Homem Não é de Ferro?

O Nascimento de Vénus, de Alexandre Cabanel
Não posso estar em desacordo com esta medida, afinal nem os ginecologistas nem os especialistas na obstetrícia são uns anjos. Mas então, os profissionais de saúde que assistem não devem passar a ser chamados vigilantes? E não acarretará o risco de afastar Mulheres carenciadas de tratamento que ainda experimentem uma concepção exarcerbada do Pudor, mesmo que estejam perante auxiliares do seu Género? Além disso, as acusações abusivas não poderão reconverter-se, deixando a estigmatização do assédio para assentarem no arrastamento para uma orgia?
Nada é seguro, nada é seguro! E se não há anjos neste campo, pode haver anjinhos.

Com Que Então, Metamorfose?

Os perigos de outra civilização industrializada: quando afastado da tradição, o Japonês citadino cai no extremo inverso do descrito abaixo, versando o Americano urbano. Onde este faz do Real um jogo, o primeiro tende a tomar o jogo como Real. O caso da pianista que, furiosa por um marido virtual se ter dela divorciado, desenvolveu esforço assombroso para matar esse personagem simulado a partir de uma pessoa de carne e osso só tem contraponto no facto de ele ter achado tal gravidade no caso, ao ponto de fazer queixa-crime. Sim, eu sei, a razão da detenção dela foi a utilização indevida de uma identidade e dados pessoais que se queriam no domínio da confidência. Porém, o que importa é notar o abastardamento do que Huizinga considerou a essência do Lúdico - o elemento de fantasia concretizado no fingir, dissolvendo-se quando expirado o limite espácio-temporal do jogo. Já não estamos diante do perigo, avassalador mas externo, que Baudrillard viu na transformação das imagens transmitidas em Realidade. É no plano do nosso íntimo, dos nossos sentimentos, que o vírus agora encontra terreno fértil para minar.
Claro que, por enquanto, não vai muito além do País do Tamagoschi. Onde se procurava induzir a responsabilidade e o afecto, descamba-se agora na furiosa vingança da desagregação das uniões. Como na vida, enfim. O próprio nome desse duplo construído e partilhado diz do investimento pessoal assombroso que se verteu nele: Avatar!

A Diferença

A razão pela qual a Europa nunca entenderá a América. Levamno-nos demasiado a sério, nunca perceberemos como as lutas pelo Poder, lá, se têm de fingir de jogo e como o Humor ganha eleições, A falta dele fá-las perder, foi o que sucedeu a Gore, no resto mais qualificado do que Bush. Em que outra zona do Globo seria possível os oponentes juntarem-se e trocarem piadas, num jantar de Caridade? Não gosto nadinha da ideia, mas, dentro das condicionantes da partidocracia, somos nós que temos muito a aprender.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Placagem dos Golos

Dia de aniversário de Pelé. A amnésia de uns e a vida exclusivamente no Presente, como as vacas, segundo Spengler, conluiaram-se para fazer-nos descansar sobre a versão oficiosa mas disseminada de o melhor golo de sempre haver sido o de Maradona, aquele parecidinho com o de Messi, mais recente. Questão de gosto, dir-se-á. Mas nenhum teve o condão de mudar a língua, enriquecendo-a, como este, ao instaurar a expressão golo de placa para uma categoria em que até entram os dois precedentes. Todavia, o próprio Rei do Futebol considerava que o seu melhor não fora esse contra o Fluminense, mas estoutro, contra a Juve. E em dia de aniversário não se deve fazer a vontade aos festejados? De facto, não é para qualquer um...

Os Ossos do Ofício

Ora bem, tenho estado para aqui a resistir a falar do divórcio da Madonna, porque foi artista que sempre detestei. Musicalmente, nada me diz, irritava-me aquele artificialismo pronto-a-fingir-que-se-comia e, além disso, continuadamente achei que ela não tinha corpo suficiente para a persona que abraçou.
Mas uma coisa tenho de referir, acerca da badalada separação. O desabafo de Guy Ritchie, segundo o qual nas raras vezes que faziam amor era como... hã... interagir com um montão de ossos, pode não ser apenas despeito de divorciando, ou sequer a encarnação do papel de coitadinho. Já que existe esta conhecida tradição dos índios Hopi, do Arizona, não é muito mais provável que ele se esteja querendo guindar a participante numa epopeia?

Votos Sobre Votos

Voto, de Anthony Papa
Com o aproximar das eleições americanas volta à baila o problema da votação dos presos. Na maior parte da Europa permitida, só em dois Estados da Federação Norte-Americana o é. Devo dizer que experimento algumas dúvidas a respeito. É certo que, defendendo que ninguém se dignifica por votar em partidos, me parece uma desumanidade escusada não poupar os encarcerados a essa angústia... Mas não sou ceguinho, sei que a generalidade das Pessoas ainda vê nessa burla um grande direito. Tentemos então pensar como Esses.
Quem desrespeitou a regra da Comunidade deve poder influir nela? Em princípio mão me repugnaria considerar as teorias que dizem ser a permissão de "botar" aproveitável para a regeneração, como também me parece digna de consideração a ideia de que o castigo só será sentido com a privação estendida ao sufrágio, como ao sexo, por exemplo. Tudo dependerá de se querer fazer o condenado ficar consciente do horror da sua acção, ou dos múltiplos processos de voltar a assimilar-se.
O que não aceito é que se excepcione, como no Vermont, a fraude eleitoral, dessa concessão. Não porque me repugne impor uma limitação conexa com a natureza do crime, a castração química aos violadores de crianças, ou aos violadores tout court, por exemplo. Mas porque me custa engolir que um assassino bárbaro disponha de uma participação retirada a um mero batoteiro...
E se o conceito fosse preenchido como deveria, abarcando toda a manipulação da verdade, qualquer candidato ficaria impedido de votar em si, mesmo que não judicialmente condenado. O que, por outras razões, as de desportivismo, deveria suceder. Sem que me lembre de alguma vez ter mentido para caçar votos, seria incapaz de votar em mim, numa qualquer pugna decidida por maiorias.

Pedagogia da Balança

O Ensino deve transmitir preceitos que ajudem à manutenção da Saúde, decerto. No caso da obesidade, parece importante que explique os valores alimentares e as tomas aconselháveis de cada género comestível. No que não posso concordar é na promoção de programas obcecados e obsessivos como este. Deixar as criancinhas sujeitas a um bombardeamento de imposições físicas, com o objectivo declarado de combater o aumento de peso, parece-me um perigoso resvalar para o Totalitarismo, que nem deixe à iniciativa de cada discente a margem de se construir, ao mesmo tempo que faz fermentar sentimentos de marginalização ainda mais humilhantes contra os que hajam nascido gordos.
Mesmo considerando o Futuro, parece-me um erro tremendo, a par do da extensão do tempo das aulas e do da multiplicação dos tempos preenchidos. Uma parece-me incompatível com a capacidade de concentração sustentada das nossas crianças. A outra uma clara tentativa de esmagar a acção da Igreja e ouftras instâncias extra-estatais. Ora, os conteúdos combinados destes dois parágrafos podem bem fazer com que os "revoltados contra a Escola", mais e em maior grau do que até aqui, se expressem preferencialmente, doravante, em corridas aos hamburgers, logo que soe a campaínha. E que os que aceitem os ditames passem a sofrer de monomania da fita métrica, podendo cair em estados de anorexia bastante mais previsíveis do que os causados pela mera ambição de ser manequim, sempre exclusiva de muitíssimo menos gente.
O nó do problema está na instilação da falácia que, jocosamente dá o título a este livro:

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Como Pertence

Depois do postal anterior, em que quase tive de colocar vinte links, estou derreado. Preciso pois de repouso, não sou menos que os guerreiros antigos. O mesmíssimo cantado por Brassens, já que hoje seria o seu aniversário. Para além de uma reabilitação total de Ulisses, porque é exaltado o Regresso, onde primeiramente se via o Engano, com a Errância a fazer a célebre ponte entre ambos, há sempre a lição, simpática para mim, de que a verdadeira Liberdade está onde temos as nossas raízes. Com o senão de tanta vez só darmos por isso depois de nos termos inutilmente gasto na demanda de algo que valesse mais a pena. E a agravante de nem todos termos mastros a que nos amarrarmos.
Ouvi:

HEUREUX QUI COMME ULYSSE

Heureux qui comme Ulysse
A fait un beau voyage
Heureux qui comme Ulysse
A vu cent paysages
Et puis a retrouvé après
Maintes traversées
Le pays des vertes allées

Par un petit matin d'été
Quand le soleil vous chante au cœur
Qu'elle est belle la liberté
La liberté

Quand on est mieux ici qu'ailleurs
Quand un ami fait le bonheur
Qu'elle est belle la liberté
La liberté

Avec le soleil et le vent
Avec la pluie et le beau temps
On vivait bien contents
Mon cheval, ma Provence et moi
Mon cheval, ma Provence et moi

Heureux qui comme Ulysse
A fait un beau voyage
Heureux qui comme Ulysse
A vu cent paysages
Et puis a retrouvé après
Maintes traversées
Le pays des vertes allées

Par un joli matin d'été
Quand le soleil vous chante au cœur
Qu'elle est belle la liberté
La liberté

Quand c'en est fini des malheurs
Quand un ami sèche vos pleurs
Qu'elle est belle la liberté
La liberté

Battus de soleil et de vent
Perdus au milieu des étangs
On vivra bien contents
Mon cheval, ma Camargue et moi
Mon cheval, ma Camargue et moi

Lançamento dos Dardos

A Nocas Verde, Júlia, Once, a Cristina Ribeiro, Lady-Bird e o Bic Laranja (Este em pacote) premiaram o recém-nascido que é o blogue onde estais com o Prémio Dardos. Esperemos que não prenunciem a Palma do Martírio, já que a causa é imerecedora. Mas S.Sebastião foi trespassado por flechas, aparentados objectos perfurantes, porém diversos, o que me sossega. E os fetiches africanos são é vítimas de pregos, além de estas puras obras de Caridade visarem estimular e não pedir.


Pedem-me que enuncie o critério e escolha mais Quinze. Quererão jogar Rugby?
Seja:

Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web. E para evitar duplicações, embora as que me beneficiaram tenham sabido bem...




Abencerragem, O lema um blogue preguiçoso é a homenagem que a Virtude faz ao Vício.






Impensável, um Blogue conhecido de uma Elite absoluta, além de mim, que tem de ser expropriado em favor das massas trabalhadoras da Blogosfera.






Don Vivo, Voz pensada a partir de Alturas sem enturmanços, de um puro aristocratismo interior, à Jünger.






Eternas Saudades do Futuro, O refinamento estético enformado na via redentora da Lealdade.




Ainda Podia Ser Pior, o único Optimismo a que sou sensível, o do culto dos Afectos, sem abdicar das Referências.






Miss Pearls, A Elegância Extrema com a coragem de não prescindir dos sentimentos.






Odisseia, O saber ponderado mas irredutível, sem medo da polémica, mas avesso a baixezas. Excepto quando está em jogo o Belenenses, é sempre de ler.





Espelhos e Labirintos, Ninguém entretece conhecimento teórico e empírico com tanta qualidade de escrita e capacidade expressiva de sensação e enformação.




O Jansenista, De como a Erudição é compatível com a Vida e a Coragem, sempre atractiva, pese a austeridade.






O Pasquim da Reacção, O Saber que eu gostaria de ter, digno da Causa que serve.






Euro-Ultramarino, Laço que as ondas não quebram, Cultura poderosa empenhada na reposição da Verdade.






Cocanha, Já disse que pode bem ser considerado o melhor Blogue Português, pelas lições que continuadamente dá sobre temas escondidos, sem alguma vez maçar.






Sub Rosa, A feliz descoberta de um Grande Pensamento alicerçado, sempre generoso e animador, face às contrariedades da vida.






Gazeta da Restauração, Como a Espiritualidade e a sua busca não estão condenadas a servir vaidades individuais ou modas de outras proveniências.






Criativemo-nos, O gosto requintado - salvo quando me cita - com o Altruísmo e a Indignação aplicados com Largueza.

A Beijar é Que a Gente se Entende?

Em primeiro lugar, a actualidade: não acredito um miligrama na veracidade da notícia que a Chanceler Alemã já mandou desmentir. A própria formulação dela, com a contraposição das culturas Norte-Sul, tresanda a elaboração de redacções ociosas e ávidas de manchettes. Basta, de resto, olhar para a imagem do texto linkado. Se fosse real o desconforto, a Política Germânica mereceria um Oscar de melhor interpretação feminina, muito mais que certas profissionais do ramo. Até ver, atribuo-a a mais uma boutade contra Sarko.Mas saltemos do beijo social para o amoroso, que como pólo de interesse, é partícipe, sim, da perenidade. Leio a indignação de Nick Fisher, autor de um manual histórico-didáctico do tema, onde exprime a sua fúria contra os autores da teoria segundo a qual a origem do gesto se deveria a Sindroma do Suor, um estratagema Pré-Histórico para, lambendo o sal, causador de transpiração elevatória da temperatura do corpo, o casal troglodita se manter fresco. Não comungo da revolta do estudioso. A frase tem grande validade se atribuirmos a sal e a fresco sentidos conotativos óbvios, em vez da pobreza da literalidade...
Neste campo o que me faz não despegar é, também, o que nunca experimentei. Como o Beijo à Capucine, da imagem, que me semeou no espírito a ponderosa dúvida sobre dever-se ou não a ele a fascinação que tantas amigas minhas, em sede de café, nutrem pelo... Capuccino!
Que dirão as Leitoras, de Sua Justiça?

Papéis e Papelões

A grande revolução mediática dos últimos tempos foi feita pelos jornais de distribuição gratuita, recebidos por mim com desconfiança e por muitos com a classificação de subimprensa. Hoje, sou menos crítico. Nem tanto por uma analogia com o que Mário de Carvalho, certa vez, me ensinou, numa entrevista que me concedeu - a necessidade de uma subliteratura para gerar hábitos de ler. Mais porque muita gente completamente afastada da curiosidade por tudo o que fosse além do limite do seu bairro passou a expandir um pouco o seu horizonte. E, sobretudo, porque passou a haver um acervo fáctico sobre o qual se podem fazer incidir as conversas, onde dantes era preciso regredir ao momento de relatar cada acontecimento, para, a partir daí, desenvolver. Um pouco como a leitura das Epopeias entre os Gregos Antigos, ou a da Bíblia, em certas fases da Sociedade Cristã.Há outro motivo de esperança: os jornais tradicionais têm agora de marcar uma diferença, face a folhas que não custam e são distribuídas com alguma agressividade. Isso significará que o pessoalismo que intervém nas peças virá, provavelmente, a ter um conteúdo muito mais criativo, não repetindo a degradação da imprensa desportiva que, renunciando às peças de antologia dos antigos redactores de «A Bola», passou quase a remeter-se à publicação das sínteses das agências.O que acabará por devolver alguma personalidade aos Leitores, a da escolha que os fará enfileirar em classes como as que o Minister Hackett enuncia, em Inglaterra. Mas o perigo supremo está em cair no que Ezra Pound definiu como a leitura mais desprezível: a do homem que acredita no que lê nos jornais. Atenção à conclusão do Bernard, tudo acaba aí. Onde o quadro do Courbet era o alfa, este será o ómega do interesse profano.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

My Endorsement

Finalmente ouso tomar uma opção clara no apoio a uma candidatura na corrida à Casa Branca - Esta!
E sugiro ao Amigo Mialgia que junte um pouco de Encarnado ao Azul e Branco, para dar as cores dos EUA e esquecer tristezas...

O Fim dos Estreitos

África, Europa, Ásia
O mar não era forçosamente o Sumo Separador: em matéria de continentes, Valéry não se cansava de dizer que a Europa era um cabo da Ásia. Mas, no nosso imaginário, enraizou-se a ideia do Oceano como barreira, ainda antes do surgimento em força da importância das Américas, porque a acessibilidade à Índia, China e Japão fez da descoberta do caminho marítimo uma espécie de autoestradas cavaquistas, tomando como paralelo o interior do País. Por isso me faz pena que não haja sido associada a esta notícia a obra de Blake que representa Mulheres dos três Continentes nuas e entreligadas, uma imagem da aproximação que se pode tornar realidade. Não creio que as dificuldades de Engenharia o inviabilizem, desde que haja vontade política. E neste campo muito mais dificultosa era a escavação da Mancha...

Depois de terem resistido à concorrência dos aviões, estará reservado às extensões aquáticas de água salgada o mero papel de referências de exílios interiores sonhados?

Imagem de Marca

Abbey Clancey. Com as minhas desculpas aos adeptos do Vitória de Guimarães, já que, namorando com Peter Crouch, terá sido o doping que permitiu ao dianteiro do Portsmouth apear a equipa Minhota da UEFA. O doping permitido, claro.

Powell Source

Toda a gente repete em Portugal o que alguns alarmistas eleitorais americanos cognominaram de Efeito Bradley, a discrepância prejudicial a candidatos negros entre as intenções declaradas nas sondagens por eleitores brancos e os votos expressos nas urnas. Alguns, bastante articuladamente, como Manuel de Lucena, não vêem facilmente a votação de acordo com os propósitos expressos, nos Estados do Sul. Talvez, mas não é desses que Obama precisa para ganhar. E se a eleição que vitimou Tom Bradley ocorreu na Califórnia, Estado sem aversões étnicas de tomo, a raça desempenhou um papel, sim senhor, mas não de animosidade ou desconfiança face aos Afro-americanos. É que o Governador eleito, Deukmejian, era Arménio e esta Comunidade, de uma elite negociante propensa a ocupar cargos públicos de destaque em países maioritariamente hostis, tem muitos traços em comum com a Judaica, como lembrou Maria Filomena Mónica num ensaio sobre Gulbenkian. No caso, votaram todos no seu, um Republicano, apesar de normalmente apoiarem os Democratas. E a diferença de votos foi mais ou menos a da totalidade de originários daquele País, no Golden State.
O que é interessante é que Obama tem feito tudo para não sublinhar a sua condição racial, até contra apoiantes seus, veteranos activistas das campanhas de Luther King, por exemplo, o Congressista Lewis, da Geórgia. Aliás, é um tanto irónico ser agora apoiado por Powell, já que vocais agitadores contra o domínio branco Norte-Americano, os acusam de "traição" ao espírito das suas raízes, um por ser extracção da elite de Harvard, o outro por ter atingido o topo da hierarquia militar. Como se o Exército e a Educação não tivessem sido os ambientes pioneiros da integração...
O que Powell traz a Obama é uma caução de que com ele os EUA não deixarão de intervir, segundo as suas necessidades. O candidato, de resto, reafirma-o, só que quer desviar recursos do Iraque para o Afeganistão e, intermitentemente, para a Coreia. Os Americanos não ligam, já que a crise os faz pensar quase exclusivamente na Economia. E os Europeus? Porque assim vêem os aliados de Além-mar afastar-se um pouco mais para Leste?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Começar de Novo

A insinuação de que eu pudesse estar do lado de algum Totalitarismo político mais não faria do que divertir-me. Porém, a obsessão em procurar um sentido útil para as palavras leva-me ao plano sentimental e social da minha esfera de acção. Parece-me ser reprovável mostrar-se totalitário na Exigência, talvez esteja fora do meu alcance conseguir sê-lo na faculdade da dádiva de mim. Sobretudo em momentos em que me auto-examino e pergunto se terei alguma coisa que valha a pena oferecer. Mas conviver não é só aplicar-se, seja na rusticidade da afirmação pessoal, seja na ostensiva generosidade de disponibilizar-se. É, muito mais, olhar para o Outro e Nele encaixar-se, sem mutilações, mas com a conveniência de fazer umas férias de si, as que qualquer aprendizagem dá.
Muitas Pessoas há de Quem quero aprofundar a noção. Isso basta para seguir em frente, sem temer reacções adversas.
Aqui fica o convite a Quem vier por Bem