sábado, 29 de novembro de 2008

Os Surdos do Diálogo

Diálogo, de Albert Szukalski
Dia Fora. aproveito o portabilíssimo computador de um Amigo para marcar o ponto, longe de casa. Lendo Convosco um poema que reprovo substancialmente, tanto quanto admiro na forma. A não ser que... a dupla negação faça vingar o entendimento contrário ao que nulifica o que não se consegue atingir, apesar de outros terem sucesso nessa via. Tudo porque se cai numa inexplicável subalternização da Luz, muito por causa da obsessiva focagem da projecção de um vulto deformado que depende dela. E que parte da presunção de que são fictícios todos argumentos de interpelação pensada idealmente do que não tem lugar pela própria divergência marginalizadora radical. Aquela que tende a não eleger o Credo, pela duradoura superstição de o crer apenas mais um.
De Augusto Gil,

SOMBRA DE FUMO

Fumo, no entanto, alguma coisa é:
Porém sombra de fumo não é nada
Para o olhar que não abranja até
Onde a matéria já não faz jornada...

Génios subtis (ou de ilusória fé)
Há, para quem a sombra assim gerada
É o irreal a palpitar ao pé
Da ansiedade duma chama ansiada.

Esses, quando uma acha se incendeia,
Vêem no fumo leve que se ateia
E na sombra que dele se produz,

As falas duma língua mal sabida,
A conversa do nada com a vida,
O diálogo do caos com a luz...

2 comentários:

ana v. disse...

Espantosa a imagem, e que bem conjugada com o soneto!
Bjs

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Ana,
foi uma concepção que me fez pensar em quão vazias são muitas das concretizações das tentativas de diálogo nos mais diversos domínios...
Beijinho