domingo, 9 de novembro de 2008

Um Reduto da Família

Uma das coisas boas que a eleição americana nos deu foi o completo falhanço da esquerdice mais militante em congregar numa frente comum tudo o que, naquelas cabecinhas decididas, surge como perseguido. Fizeram a própria cama na Califórnia, onde o discurso que pretendia tornar o papel do eleitorado Negro e dos casamentos homossexuais uma luta convergente foi, precisamente, implodido pela rejeição dos votantes afro-americanos, os quais, acorrendo em maior número do que o habitual, presumivelmente para votar num dos seus, dominados pelos valores familiares de pastores moralmente conservadores, determinaram uma rotunda derrota aos revolucionários de algibeira.
Considero da máxima importância este fracasso da retórica equivalente à que o BE de cá regularmente tenta guindar a pressuposto das opções éticas. A convivência harmoniosa entre as etnias passa muito pela desconfiança que possa couraçar os alvos tidos como instrumentalizáveis por agitadores em vista a inverter os fundamentos perenes da Comunidade. O que lhes secará um tanto a vontade de continuarem a fraccionar, segundo critérios de cor.

11 comentários:

Marie Tourvel disse...

Esquerdistas têm a péssima mania de querer organizar "minorias". Essa organização passa por levantar bandeiras, fazer passeatas e outras coisas mais. Não respeita o indivíduo. Por essas e outras é que peguei asco de qualquer coisa que lembre a esquerda.
Um beijo

Lina Arroja (GJ) disse...

Obrigada Paulo. Tenho tentado dizer que a cor só é importante enquanto a colocarmos no cabaz das minorias. Ainda não tinha encontrado essa elegância de raciocínio para explicar o que quero significar com a minha expressão "Obama não tem cor". Claro quer ele é preto ou africano ou mestiço ou afoamericano, mas o que interessa é que ele só poderá ser livremente essas cores todas quando deixar de ser considerado minoria. E essa é uma conquista fundamental destas eleições.

Anónimo disse...

Os americanos bem podiam importar o Dr. Louçã mais as suas causas fracturantes. E eu agradecia a supressão do ruído de fundo.

Abraço.

Maria de Fátima Filipe disse...

Querido Paulo, nunca tinha lido nada escrito com tanta clareza e com que tanto me identificasse.

Beijinho.

ana v. disse...

Dou-te razão e aplaudo a tua clareza de raciocínio, sempre invejável. Nada mais irritante e desonesto do que tentar atirar para o mesmo saco tudo o que convém à retórica de uns quantos espertos (sejam de esquerda ou de direita) para iludir os pacóvios, sem o menor respeito pelas diferenças entre as causas. Detesto estas batotas políticas. Mas o resultado é qase sempre uma lição de quem menos se esperava, e ainda bem.

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Marie,
eu até me sentia à Esquerda em algumas matérias, como o solidarismo económico-social, em oposição ao concorrencialismo extremado. Mas sinto como horripilantes as tentativas recorrentes de atiçar uma parte da Comunidade contra a outra. Também por isso simpatizo com Obama, que tentou mudar esse negativíssimo divisionismo, coisa em que até Hillary caiu um pouquinho.

Querida Grande Jóia,
e foi coerente na contínua tentativa de negar um carácter de parcialidade pelos desfavorecidos expresso no sentimento contra os que naturalmente dominam, como na repreensão daqueles que pretendiam conferir um carácter racial à campanha, o Reverendo Sharpton, por exemplo. Isso, no calor da refrega, não é fácil. E tem de lhe ser para sempre creditado.

Meu Caro Mialgia,
podemos expedir para lá o Dr. Anacleto, mas não poderemos esquecer a Sr.ª D. Fernanda Câncio, que me parece ainda mais perseverante do que o líder do BE.

Querida Ariel,
piorou da gripe? Só uma debilidade dessas justificaria tamanho elogio, perfeitamente imerecido, hélas! Mas sabe bem ouvi-lo, pelo que Lhe agradeço o afecto, mesmo que ele obnubile o rigor.
Beijinhos e abraço

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Ana,
é uma pecha que vejo até em alguns opinadores que teriam a obrigação de o não fazer, Daniel Oiveira, por exemplo. Na Amérida Federada, até parlamentares obamianos, embora provenientes de um prévio apoio a Clinton, o Congressista Lewis, entre outros, se espalharam nessa superfície escorregadia.
Beijinho

Anónimo disse...

Tem razão, Meu Caro. Já me esquecia da namoradinha cá da terra.

P.S: Ele há coisas incríveis. Esta noite mudei a minha opinião, sempre muito negativa, em relação a duas personagens: o Incrível Hulk e o (H)Elton John.

Abraço.

Paulo Cunha Porto disse...

Meu Caro Mialgia,
é, ela é incontornável, como está na moda dizer.
E já vai lembrado acima. Eu, ao contrário dos comentadores, até vejo predicados no Hulk, acho é que ele devia jogar mais ao meio.
Abraço de parabéns

Luísa A. disse...

A esquerda tem essa técnica, Paulo, de eleger as suas causas (fracturantes) e de as meter todas no mesmo saco; e quem é favorável a uma, tem de o ser a todas. Isto só significa que, para a esquerda, as causas já perderam o seu valor intrínseco e distintivo, estão «secas» e reduzidas a meras bandeiras (ou sinais de posicionamento político). Isto também significa, em última análise, que a esquerda não luta por nada de «substancial», e apenas empunha bandeiras (que serão cada vez mais insubstanciais e insignificantes) para provar que existe… ou a tentar existir.

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Luísa,
e traduz também algo que lhes é inerente e dos poucos mitos que restam, a ecessidade de conflito permanente, dentro da comunidade organizada.
Beijinho