sábado, 15 de novembro de 2008

A Sogra em Línguas

Apesar de as sogras serem o único grupo social que bate as louras como tema de anedotário, eu defendo que a alergia dos genros a elas no Portugal de hoje é mais folclore do que outra coisa. Muitos casos que conheço mais de perto mostram-nas amicíssimas dos maridos das filhas e, até, tomando muitas vezes o partido deles contra os rebentos, nas pequenas discrepâncias do dia-a-dia. Ao contrário da relação com as noras, essa sim, mais problemática.
Mas não parece ser caso em Itália, onde um cavalheiro(?) celebrou uma convenção ante-nupcial que consagrava a promessa da desposanda em manter ao largo a sua mamã. Infringido o acordo, deve-se notar a convergência da razão dada ao lesado, quer na anulação eclesiástica, quer nos tribunais civis. A primeira, então, seria fruto de uma independência sem par, dado o celibato dos decisores. Mas, voltando à vaca fria, parece-me de discutibilíssima rectidão a imputação de uma melguice à Mãe da noiva, ainda antes de ela poder ter lugar. Lembra os assobios ao árbitro, num campo de futebol, previamente a ele começar a apitar, quando entra em campo.
O que me leva a um artigo de 1909, assinado por Assis Júnior, onde se lê, sobre o procedimento de nativos africanos para com esses elementos afins:
O cafre - o habitante da costa oriental d´África austral - em observância aos seus usos, costumes e mesmo leis, evita sempre o encontro com a sogra como signal de muito respeito, como succede ao escravo com o seu senhor, ao vassalo com o seu rei, etc.; porque entende que um ente, objecto, ou coisa a que se deve respeito, se não deve encontrar.
Venham lá dizer que a nossa civilização não tem lições a receber de outras, tidas como menos evoluídas! No caso vertente até fica ao critério do Leitor se o ensinamento a retirar concerne à urbanidade ou à eficácia...

18 comentários:

Gi disse...

Há sociedades matriarcais e sociedades patriarcais e há que saber como comer língua-da-sogra.
O meu marido foi visitar a minha sogra e eu vou visitar a sogra dele, vê como se deve fazer? ;)

Gi disse...

Ainda há-de sair uma Lei do Casamento em que a condição seja os nubentes serem orfãos de mãe.

Bem eu hoje estou do pior; vou-me embora.

Pedro Barbosa Pinto disse...

Muito boa gente confunde ‘viver’ com ‘vegetar’ e talvez seja isso que leva essa boa gente a recear o corte das suas raízes. Façam-no, que para além de verificarem que afinal continuam vivos, descobrirão que as reuniões com sogras, pais, cunhadas et cætera, são sempre uma festa porque só acontecem quando e se todos quiserem.
E se não...cafretizem-se :-)

cristina ribeiro disse...

Fico-me pelas boas recordações daquela língua-da-sogra apregoada na praia com um: é chorar,é chorar para a mamã dar :)
Beijo

LADY-BIRD, ANTITABÁGIKA, FÃ DO JOMI LOL E JÁ AGORA DOS NOSSOS AMIGOS ANTI-TECNOLOGIAS: MARCHANTE (se não existissem tinham que ser inventados) disse...

lolol... não tenho sogra...lol... sou solteira e boa rapariga, e acho que não vou ter nada contra a minha sogra quando um dia me casar...
Mas que há com cada uma que leva qualquer um à ira, há isso há!

Contudo penso que hoje em dia, as sogras e os genros já se dão melhor, o problema será mais entre as noras e as sogras, porque as sogras vão querer sempre protger os seus queridos meninos... a menos que a Senhora seja Santa, ou a nora uma "lesma", vai dar sempre confusão nem que seja nas costas uma da outra...

Beijinho

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

eu adorava a minha sogra e ela a mim,Paulo.

Penso que existe o Mito da Sogra :-) mais nada.

cristina ribeiro disse...

P.S. Depois de várias tentativas, não pude aceder À "Leitura Matinal", n«'O Misantropo». Não pode o Paulo fornecer o link?

Ka disse...

hmmm sogras?


Arghhhhhh

Só me pergunto porque razão são sempre mais complicadas as mães de filhos que as mães de filhas (e peço a deus que não me transforme numa dessas...lol). Tenho amigos e amigas com quem falo e eles (quase todos) gostam das sogras que têm, elas (quase enhuma) está satisfeita com o que lhe saiu na rifa...alguma razão haverá para esta tendência...


Beijinho

Luísa A. disse...

Subscrevo inteiramente o sensato ensinamento dos cafres (nome tão injustamente utilizado noutros sentidos!), Paulo. Foi de resto, o tratamento que apliquei ao meu sogro, que é tão, tão importante, que deixei de ousar aproximar-me. O casamento tem o risco do «dois em um»: pelo preço de um marido compra-se também uma família. ;-D

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Gi,
isso é que é Sabedoria! Um casamento com separação de bens, no sentido afectivo, que não apenas no material, mais comezinho do que o que engendrásteis!
Qual! Adoramo-La, também quando nesse "Piorio".

Meu Caro Pedro Barbosa Pinto,
sim, a harmonia é possível, caso haja (boa) vontade. O costume afro-oriental citado é verdadeiramente exemplar, pos arranja bons motivos para eclipses que, doutra forma, magoariam, coisa em que a nossa sociedade é de uma falta de subtileza desconcertante.

Querida Cristina,
a diferença entre a infância e a maturidade? Quer-se terrivelmente numa idade o que se desdenha (sem querer comprar) na outra?

Querida Lady Bird,
bah, todas as Senhoras deste País devem estar a roer as unhas, na ânsia de que lhes calhe a Menina por Nora!

Querida Júlia,
com o Devido Respeito pela Minha Querida Amiga, manifestado na maneira oposta à dos Cafres, não serve de exemplo para ninguém, nesta matéria: quem é que não A adora? faz favor de escolher exemplos mais normalzinhos.

Querida Ka, pois, "nenhuma Mulher é bem casada se tiver sogra ou cunhada", diz-se...
Penso que a razão está na concorrência afectiva que Vós Vos moveis constantemente. Quando não é no aspecto amoroso da atracção, é-o, como nos casos em apreço, no da influência...

Querida Luísa,
mesmo nestes tempos atomísticos, parece uma inevitabilidade. Quanto ao arranjo familiar, ehehehehehe. Mas os sogros costumam despertar menos desentendidos... enfim, a encenação do temor reverencial não deixa de ser patusca quando levada à distância em que a reverência deixe de ser perscrutável.
Beijinhos e abraço

Pedro Barbosa Pinto disse...

Ka,
A minha avó costumava dizer:
- "Os filhos da minha filha meus netos são, já os filhos da minha nora, serão ou não".

Ka disse...

Caro Pedro,

Conheço bem esse ditado (a mim nunca me foi dito graças a deus) e acho-o bastante desagradável :S parte-se sempre da avaliação pela negativa não acha?

Beijinho aos dois

Pedro Barbosa Pinto disse...

Desagradável? Para não ser ordinário vou usar apenas o adjectivo insultuoso. Mas a voz do povo é sábia e o ditado explica bem a razão da tendência de que nos falava a Ka. É triste, mas é assim mesmo!
Um beijinho e o Paulo que me desculpe o abuso

Paulo Cunha Porto disse...

Ora Essa, sigo-Vos deliciado!
Beijinho e abraço

ana v. disse...

Sempre me dei bem com sogras e sogros (e já tive vários...) mas admito que é precisa uma certa diplomacia e que alguma distância é essencial para essa harmonia.

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

Ana, reconheço que terás razão, como sabes também tive duas sogras.

No entanto, eu não sou capaz de viver assim, tenho o coração na boca, como dizem. Ou gosto ou não gosto, ou afasto e me aconchego.Jamais peramaneço no meio. Jamais manter a oportuna distância, uma vez que aderi à familia e ela me acolheu bem. Claro que agora dói mais a distância, mas isso é outra história que não cabe aqui por motivos óbvios.

o Paulo tem o condão de me fazer falar demais e tu também. saio de finiho. ciao!

ps - a minha avó dizia o mesmo das netas dos filhos. penso que não o fazia por mal

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Ana,
e eu que não Te pensava tão próxima da Filosofia Tradicional dos Cafres!

Querida Júlia,
todos A reconhecemos assim. Se fosse capaz dessas reservas, poderia ser até estimabilíssima, mas a Nossa Júlia é que não era!
Beijinhos

ana v. disse...

LOL! Parece que estou, sim...