Não posso deixar de pensar que situações como esta, mais do que traduzir as fraquezas da rectidão humana, se ficam a dever ao anonimato progressivo a que muitas profissões são votadas. Antigamente, excluídas as micropovoações onde a extensão dos Correios era cometida a populares distribuidoras de outras mercadorias, confiava-se no Carteiro como um pilar social, ao ponto de, muitas vezes, ser ele a desempenhar tarefa para que não era remunerado, a leitura das missivas dirigidas a iletrados. Um resquício dessa confiança encontrei-o, não há muitos anos, ao saber da eleição para presidente camarário do único município da Ilha do Corvo do profissional desse ofício.
Na Urbe e arredores, cada vez mais, a tendência foi a de perder de vista a consideração pessoal dessa função, já que a actividade respectiva se subsumia à rotina sem rosto que se furtava ao nosso olhar, por estar bem debaixo dos nossos olhos. Chesterton desmascarou tal miopia psíquica no conto «O Homem Invisível», em que faz um assassinato ser cometido por um agente escamoteado às vistas das testemunhas - mas não ao raciocínio reconstituinte do Padre Brown - por um uniforme de responsável das entregas postais.
Da mesma forma, o dinheiro de plástico, de cartões creditantes debitantes e o Diabo a Sete, subtraem à vigilância do olhar a concreção do dinheiro, sempre equiparada a metal sonante ou cédulas sucedâneas. E, quando se juntam a evaporação da identidade de que dependem as imputações criminais e a abstractização da matéria sujeita a gamanço, chega-se o fogo à pólvora.
É o Progresso!
Na Urbe e arredores, cada vez mais, a tendência foi a de perder de vista a consideração pessoal dessa função, já que a actividade respectiva se subsumia à rotina sem rosto que se furtava ao nosso olhar, por estar bem debaixo dos nossos olhos. Chesterton desmascarou tal miopia psíquica no conto «O Homem Invisível», em que faz um assassinato ser cometido por um agente escamoteado às vistas das testemunhas - mas não ao raciocínio reconstituinte do Padre Brown - por um uniforme de responsável das entregas postais.
Da mesma forma, o dinheiro de plástico, de cartões creditantes debitantes e o Diabo a Sete, subtraem à vigilância do olhar a concreção do dinheiro, sempre equiparada a metal sonante ou cédulas sucedâneas. E, quando se juntam a evaporação da identidade de que dependem as imputações criminais e a abstractização da matéria sujeita a gamanço, chega-se o fogo à pólvora.
É o Progresso!
9 comentários:
S. O último carteiro popular foi o de Pablo Neruda.
Eu quando for grande quero ser o carteiro daquela Jessica Lange...
Abraço.
O carteiro do Pablo Neruda era, sem dúvida, um amor :-)
Era, com efeito, uma profissão importantíssima, com direito a uma música belíssima do Sérgio Godinho.
P. S.
Beijinhos :-)
Os senhores bancos têm de passar a enviar os cartões para os balcões.
Estas 'facilidades' dão nisto...
Agora andam de troley com a corresondência atrás e os cães deixaram de lhes achar piada.
Meu Caro Rudolfo,
e esse não actuava propriamente no meio duma metrópole...
Quem não quer, Caro Mialgia? Extraordinário como uma parvinha na conversa pode resplandecer tanto na tela...
Olhe, Querida Fugi, não conheço essa. Vá de pô-la na Toca?
Querida Margarida,
claro que não cabe qualquer culpa no cartório às Senhoras da Banca...
Querida Patti,
até imagino os cachorros pensando "já não se fazem pernas, digo carteiros, como antigamente...".
Beihinhos e abraços
Tsss, tsss...Até já nem nos carteiros se pode confiar! "Oh tempora, oh mores"...
Ab
T
Toda a gente anda de trolley. Será mialgia de esforço?
Cumpts.
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