quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A Dita Dura Verdade

A Ditadura é Instituída Para Situações de Crise, de Augustyn Mirys
Devo dizer que não culpo qualquer um dos que não viram ironia nesta frase. Dizia Schlegel que a Ironia é a forma do paradoxo e, aqui, de paradoxal, nicles! Não só porque parece evidente que com a rotina democrática nada se resolve em momento de dificuldade, como por a Ditadura ter sido uma instituição genuinamente democrática, da Roma Antiga, uma magistratura comissarial de curta duração para trazer ordem a onde só havia caos. Por isso me oponho a ambas as formas deste mesmo regime, seja o cheque em branco numa etiqueta, seja o endossar dele a um indivíduo, sem perspectiva de durabilidade, ou vigilância superior, que é muito diferente da tirania da popularidade para os demagogos se exercitarem de quatro em quatro anos.
Mas, lá está, quem é que podia descobrir ironia na saída tão comentada? A não ser em considerar a suspensão coisa estranha ao conceito de Democracia...

13 comentários:

CPrice disse...

também a referi Caro Paulo mas numa outra perspectiva. Infelizmente Meu Amigo não penso que a situação sugerida seja o oposto do que acredito ser a verdade.

cristina ribeiro disse...

Se formos a analisar bem as coisas, chegaremos à conclusão de que foi uma situação caótica- a resultante da Iª República- que legitimou, aos olhos da maioria dos portugueses, que o aplaudiram então, tamanha era a balbúrdia, o pântano, o Estado Novo-; mau foi ele perpetuar-se, quando já estavam reunidas as condições para retomar a normalidade.
E " arrumar a casa" era o que se propunha, antes, João Franco...
Beijo

Gi disse...

Agora assistimos a uma democradura, ou será que é uma ditamole; é melhor darmos uma no cravo e outra novamente no cravo.

ana v. disse...

Ah, eu sabia que não deixavas escapar esta! Triste país, Paulo, em que uma óbvia ironia é interpretada à letra e aproveitada à exaustão pela barricada contrária. Bah... gentinha sem sentido de humor!

Patti disse...

Eu sou das que acho que foi uma ironia, numa má altura, infeliz, trite, o que lhe quiser chamar. Mas foi uma ironia.

Mas pior, ridículo e palhaçada de quinta categoria, foi o aproveitamento da comunicação social, que pelos vistos anda em manada, a fazer estágio no 24 Horas, e não tem nada de mais importante para encher parangonas.

Isto é mesmo uma terra de gente triste, burra, muitíssimo pouco profissional!

Juro-lhe que fiquei enojada com a peixeirada e se o assunto não fosse sério, até lhe dizia que tive que tomar uma aspirina!

Ai que terrinha mais brega, esta nossa!

cristina ribeiro disse...

P.S. Mas- e não estamos ainda numa situação igual àquela, embora se corra esse risco- a ironia do dito foi muito evidente.

Anónimo disse...

"Isto é mesmo uma terra de gente triste, burra, muitíssimo pouco profissional!"

Bingo, caríssima Patti!

Claro que os nossos políticos também estão à altura da imprensa...Sobretudo aquele inenarrável Menezes que, cego pelo ódio à actual líder, se farta de dar tiros no pé (e no Partido)...

T

Anónimo disse...

Estou de acodo, meu caro Paulo, desde que também te contiga convencer que as tiradas do Chavez são irónicas. Afinal, se o principal fundamento para justificar que MFL falou com ironia é o facto d toda a gente na sala se ter rido,não deixa de ser verdade que quando Chavez diz aqueles disparates, também toda a gente se ri. Dentro e fora da sala!
Abraço

Anónimo disse...

Estou de acodo, meu caro Paulo, desde que também te contiga convencer que as tiradas do Chavez são irónicas. Afinal, se o principal fundamento para justificar que MFL falou com ironia é o facto d toda a gente na sala se ter rido,não deixa de ser verdade que quando Chavez diz aqueles disparates, também toda a gente se ri. Dentro e fora da sala!
Abraço

Maria de Fátima Filipe disse...

Querido Paulo, a questão não é saber se a senhora estava ou não a ironizar, a questão é que a lider da oposição, candidata a primeiro ministro, não pode ter um chorrilho de saídas em falso, umas a seguir às outras, qual delas a melhor, para rematar com supostas ironias para as quais não tem qualquer vocação nem jeito. Na politica não há meninos de coro, com ferros matas com ferros morres. E não me parece que sejamos piores ou melhores do que noutros países, somos é mais pequeninos e paroquiais.

Anónimo disse...

De há anos a esta parte que abomino TODA a classe política tuga. Dito isto, a senhora teve uma tirada irónica, mas infeliz. Óbvio que o partido dos Homens do Avental tratou logo de tirar desforço. Teve azar na escolha (se calhar a maioria dos tugas, sob o efeito da anestesia, já nem liga), um cromo residente da AR e ex-Qualquer-Coisa-da-Mocidade-Portuguesa. Não é o melhor exemplo para largar postas de pescada de pseudo-ofendido.

E o jeitão que a gaffe deu. Passou a ser O TEMA do momento. De repente, desapareceu a crise e a caldeirada do Ensino.

Imagine-se o que seria se se desse o mesmo relevo às constantes argoladas da dupla de palhacitos Pino y Lino, tão do agrado do proto-ditador sul-americano da camisa vermelha.

Abraço.

Marie Tourvel disse...

Tenho cá comigo, Paulo, querido, uma opinião, que é um trecho de um texto de um grande amigo meu jornalista: "O eleitor erra. Quase sempre. Em todos os lugares. O que torna a democracia incomparavelmente superior a todos os outros sistemas não é o método de escolha dos governantes, e sim a possibilidade que ela dá de nos livrarmos deles. Um político qualquer pode embolsar um dinheiro de propina, mas uma democracia sempre irá dispor de mecanismos para puni-lo. Quando esses mecanismos deixam de funcionar, a democracia não serve para mais nada. Ela perde o sentido. Foi exatamente o que aconteceu com o Brasil. O país poderia ter dado certo. Não deu. Pena."
Não tenho mais nada a acrescentar. Concordo inteiramente com meu amigo querido.

Beijinhos!

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Once,
ehehehe, podem estar até cimfundidas as modalidades, mas sendo de uma mesma natureza, para mim condenável...

Querida Cristina,
inteiramente de aordo quanto a João Franco, que apenas queria governar por decreto até à ratificação parlamentar de novas Câmaras, com eleições já convocadas para Abril do ano do Regicídio. Era uma instituição com muitos precedentes cobstitucionais.
Também me parece ter tido um carácter limitado no tempo o Período de 1926 a 1933, da Ditadura Militar, embora já não se pudesse considerar comissarial, por prescindir de corroboração parlamentar.
O Estado Novo, porém era outro regime, uma redenção dos males do anterior, que não era visto como normalidade, mas como a anormalidade nociva que foi. E poderia ter durado muito mais, não fora o desastre marcellista.

Querida Gi,
para dar nos cravos, sobretudo os vermelhos, conte comigo!

Querida Ana,
a formulação também foi deficiente. Mas lá está, onde é que qualquer não-avisado ouvinte podia ver ironia numa frase que fala da incapacidade democrática? Ai da ironia que tem de se explicar, já falámos aqui disso...

A CS, o porta-voz do PS, o Dr. Menezes, Querida Patti. Foi ver sete cães a um osso. E porquê? Porque a verdade estava lá todinha e não é para se dizer. A oradora pensou que houvesse ilusão democrática suficiente para ser entendida, mas como mais não há do que desilusão democrática, o truque retórico ficou reduzido a cisco.

Meu Caro TSantos,
é a vez dele, é a vez dele, não disse logo à partida que iam provar do remédio que Rios e outros Pachecos lhe deram?

Meu Caro Carlos,
mas eu acredito-Te. Ou achas que estou convencido de que o Presidente Chávez pensa mesmo que Bush é o Diabo? Ainda se fosse a Ana Vidal a dizê-lo...

Querida Ariel,
concordo com tudo o que disse, mas fiz o voto de não falar de MFL, por uma questão pessoal me prejudicar a independência, levando-me a algum preconceito contra ela. Por isso apenas abordei a questão sob o ponto de vista da Ironia.

Meu Caro Mialgia,
também eu estou fartonho desta partidocracia absolutmente medíocre e do seu estrato - e extracto - dirigente.
E o Amigo viu bem a conveniência do disparate vocal. Mas a voracidade jornalística e abutresca adora esta carne apodrecida...
Com oposições destas, para que precisa o P-M de correligionários?

Querida Marie,
eu sou maus radical, é a própria escolha segundo rótulos partidários que falseia tudo, criando as conivências que ignoram a justiça e os anzóis que prendem aos slogans da demagogia.
Beijinhos e abraços