sábado, 22 de novembro de 2008

As Vozes do Silêncio

Venho dando tratos de polé à capacidade especulativa para tentar perceber a atitude da maioria PS, de silenciar politicamente o Dr. Loureiro, não aprovando a audição parlamentar, no escuro negócio do BPN. A desculpa oficial, de estar a ser investigdo judicialmente, não colhe, pois nunca foi impedimento de diligências parlamentares paralelas, com Camarate à cabeça, até sob a voluntarista forma de Inquérito, quando, aqui, apenas se pedia que escutassem. Uma hipótese óbvia é a de pensar o partido do Governo lucrar mais com a suspeita sobre figuras do principal rival, comparativamente com o cenário de esclarecimentos que poderia obter uma comissão dedicada.
Porém, numa publicação de 1885, encontro narrada uma tradição de Tavira que talvez ajude a compreender. É a de fazer silêncio.
Quando uma Mulher daquela região queria obter indicação acerca de se realizar ou não alguma coisa pensada, prometia fazer um silêncio a Santo da sua devoção. Pedia a uma amiga ou parente que a acompanhasse e saíam as duas, sem trocar palavra uma com a outra ou com mais alguém que passasse, na noite de Quinta-feira, repetindo-o na de Sexta e na do Sábado, depois de uma reza ao Venerado em que se diz Senhor(a) Fulano(a), a Graça sois e graça me dais, pelo amor de Deus, peço ao Senhor Jesus Cristo que me deis a mostrar pelas vozes do povo se...
Dirigiam-se à capela em que se cultuava aquele Intercessor e, pelo caminho, a interessada ia rezando 100 Ave-Marias, enquanto a acompanhante tomava nota de todas as conversas que ouviam e daquelas em que entravam expressões como "sim, é possível, de certeza" e as que faziam soar "não, nem pensar", nunca", como convicções de força semelhante. De igual forma procedem no regresso, em cada um dos três dias citados. Depois somam as notas e, consoante as declarações pela positiva ou pela negativa predominem, têm a resposta ao que procuravam.
Eu já tenho dúvidas quanto a oráculos de iluminados. Elas aumentam, em passando a responsabilidade para a uma rudimentar Democracia. Mas admito que um raciocínio paralelo, preso a estas reminiscências do Oculto, tenha imperado nas mentes dos parlamentares ainda na mó de cima. E que no íntimo peçam à República, muito laicamente que lhes aclare o Passado como as Jovens Algarvias pediam aos Santinhos que lhes dessem a conhecer o Futuro. É que qualquer outra justificação ainda parece mais esfarrapada ao pé desta!

5 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro, cheira-me que perceber o imbróglio deste caso nos reporta ao Marcello Caetano, que concedeu a existência de um grupo liberal entre os pares da Assembleia. Daí a um Parlamento cheio de partidos foi um estalar de dedos. E os partidos (designadamente, os que alternam no poder e vão conquistando as negociatas mais suspeitas e obscuras) tratam de se ir protegendo uns aos outros, para evitar que resultem em prejuízo de outros os prejuízos de uns.

Em que é que isto explica o caso vertente? Não explica. Mas voltamos a ter a certeza de que, sem partidos, esta dúvida preocupante que nos transtorna o presente nem existiria...

Anónimo disse...

A máxima a observar parece ser esta:

Não mexer muito no lixo para não incomodar o descanso do Grande Supervisor, respaldado no seu módico sustento de 17.000 Aérios mensais.

Abraço.

Paulo Cunha Porto disse...

Meu Caro JC,
por isso defendo a eliminação desses ninhos de compadrios, que dividem em tanta coisa fundamental, mas, pelo menos os do arco constitucional, como há anos dizia o Dr. Júdice, partilham alegremente o bolo.
Entretanto, foi viabilizada a Comissão de Inquérito. Seria caricato se chamassem o Dr. Loureiro a depor.

Meu Caro Mialgia,
haaaaam aquele Senhor que nos dá como prova de os seus serviços fazerem muita coisa, mesmo que não aquilo para que foram criados, a respectiva palavra?
Ah, pois, a supervisão não dorme, só descansa, como se dizia dos graduados na Tropa.
Abraços

Luísa A. disse...

Paulo, provavelmente vão ouvi-lo, agora que o vice-governador do BdP veio desmentir o que o outro tinha dito. Mas qualquer coisa me diz, a mim, que as coisas, para o conselheiro de Estado, não vão ser fáceis, tanto mais que me parece longe de estar isento de culpas. Esta gente um pouco «deslumbrada» – como o é também o grande amigo da Mota-Engil – perde, quase sempre, a noção dos limites.

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Luísa,
sem qualquer noção das culpas que o De. Loureiro tenha no cartório, também me assaltou logo a ideia de que poderia estar a jogar em antecipaçõ e a tentar limpar-se com uma ultra-disponibilidade colaborante.
Beijinho