terça-feira, 21 de outubro de 2008

Powell Source

Toda a gente repete em Portugal o que alguns alarmistas eleitorais americanos cognominaram de Efeito Bradley, a discrepância prejudicial a candidatos negros entre as intenções declaradas nas sondagens por eleitores brancos e os votos expressos nas urnas. Alguns, bastante articuladamente, como Manuel de Lucena, não vêem facilmente a votação de acordo com os propósitos expressos, nos Estados do Sul. Talvez, mas não é desses que Obama precisa para ganhar. E se a eleição que vitimou Tom Bradley ocorreu na Califórnia, Estado sem aversões étnicas de tomo, a raça desempenhou um papel, sim senhor, mas não de animosidade ou desconfiança face aos Afro-americanos. É que o Governador eleito, Deukmejian, era Arménio e esta Comunidade, de uma elite negociante propensa a ocupar cargos públicos de destaque em países maioritariamente hostis, tem muitos traços em comum com a Judaica, como lembrou Maria Filomena Mónica num ensaio sobre Gulbenkian. No caso, votaram todos no seu, um Republicano, apesar de normalmente apoiarem os Democratas. E a diferença de votos foi mais ou menos a da totalidade de originários daquele País, no Golden State.
O que é interessante é que Obama tem feito tudo para não sublinhar a sua condição racial, até contra apoiantes seus, veteranos activistas das campanhas de Luther King, por exemplo, o Congressista Lewis, da Geórgia. Aliás, é um tanto irónico ser agora apoiado por Powell, já que vocais agitadores contra o domínio branco Norte-Americano, os acusam de "traição" ao espírito das suas raízes, um por ser extracção da elite de Harvard, o outro por ter atingido o topo da hierarquia militar. Como se o Exército e a Educação não tivessem sido os ambientes pioneiros da integração...
O que Powell traz a Obama é uma caução de que com ele os EUA não deixarão de intervir, segundo as suas necessidades. O candidato, de resto, reafirma-o, só que quer desviar recursos do Iraque para o Afeganistão e, intermitentemente, para a Coreia. Os Americanos não ligam, já que a crise os faz pensar quase exclusivamente na Economia. E os Europeus? Porque assim vêem os aliados de Além-mar afastar-se um pouco mais para Leste?

12 comentários:

Anónimo disse...

Desta vez não há efeito Bradley que possa salvar McCain da derrota. Para ser franco tenho-me alheado da campanha. Já cansa aquele circo mediático, os candidatos de aviário, sub-produtos de campanhas de marketing (por cá é semelhante, somos é mais pobrezinhos...); tudo aquilo tresanda a artificial, uma espécie de politica de silicone.
E os Europeus, pergunta? Os Europeus, vença quem vencer, hão-de dançar conforme a música, porque nos tempos mais próximos o Maestro continuará em Washington.

Abraço.

Anónimo disse...

Mas os Europeus já se deviam ter habituado a ver os aliados de Além-mar afastarem-se para paragens onde os proveitos mais os seduzam, seja Leste, Médio-Oriente ou mesmo Total-Oriente.
Abraço.

Pedro Barbosa Pinto disse...

Com o grande prémio do Brazil a realizar-se no dia 2 de Novembro vai ver que o 'Efeito Lewis Hamilton' é que vai ser o mote para as eleições americanas. Criatividade no jornalismo é coisa que não falta hoje em dia.
Efeito Bradley? Que coisas complicadas são essas que você está para aí a falar?

Pedro Barbosa Pinto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

La pregunta del millón de dólares......¿Recibirá el futuro Presidente Obama a Zip- Zip en la Casa Blanca?

margarida disse...

Eu já nem sei o que pensar daquela campanha, das eleições, do futuro dos EUA e da velha Europa...
Mas ele vai mesmo ganhar?
E se fosse o outro senhor, seria melhor?
Angústia...

Lina Arroja (GJ) disse...

Concordo consigo, Paulo. Powell traz a Obama a caução necessária para a definição militar norte-americana. De resto a campanha tem sido o mais branca possível por parte do candidato democrata, bem ao contrário de McCain que tem utilizado o que eu chamo "a teoria do porco". E para mim a "teoria do porco" é a deturpação dos princípios para atingir fins. Neste momento a economia, pode interferir no sentido inverso ao que seria a intenção de voto.
Os Europeus têm medo de ficar do lado de cá a apreciar o que vêem do lado de lá.É a questão do bolo e do tamanho das fatias.

Paulo Cunha Porto disse...

Essa é que é essa, Meu Caro Mialgia, com uma continuidade de política exterior em que, adivinho-o, só variará o cenário. Penso que só um grande escândalo financeiro pessoal, ou sexual, a que Obama não parece atreito, lhe poderia evitar a vitória. Ou a captura de Bin Laden. A morte não chegaria, mas a exibição num "triunfo", à romana, seria muito capaz de empolgar aquela gente.

Meu Caro Mike,
dizes muito bem. Mas como a memória é curta, de cada vez que sopra uma brisa nova, lá desfraldam eles as velas. Foi com Kennedy, com Nixon (não na eleição, mas por altura da abertura à China), com Reagan e, agora, com Obama.

Meu Caro Pedro Barbosa Pinto,
realmente, pareceria muito mais difícil um piloto negro ou mestiço na Formula 1, do que na Presidência dos EUA.
E o Efeito Bradley não só é complicado, como falso. Pelo que referi.

Meu Caro Filomeno,
então ele não respondeu já que sim??'!!

Acho que sim, Querida Margarida, a crise arruinou mais as hipíteses de McCain, que eram reais, do que as bolsas dos que na Bolsa jogaram.
Com as ressalvas que indiquei na resposta ao Caro Mialgia.

Querida Grande Jóia,
não podemos ignorat a chamada de atenção aos apoiantes para que respeitassem o asversário, feita por McCain e que lhe valeu apupos da própria claque.
O problema da campanha de McCain na esfera económica está em, não tendo já grande margem, ter caído em criticar o adversário por impor um quase-socialismo. O remoque não é credível e, com o estado a que as coisas chegaram, um pouco mais de regulamentação é muito bem-vindo pelo cidadão comum, que não está nada sensível aos cantos de sereia do Liberalismo desbragado, contrariamente ao que costumava.
Beijinhos e abraços

Maria de Fátima Filipe disse...

Que lufada de ar fresco! Até vou jantar com mais apetite :)

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Ariel, sei bem que era um Espírito Bom que pairava e já não Se precisa de definir por posicionamentos políticos comparados!
Beijinho

Pedro Barbosa Pinto disse...

Caro Paulo,

Culpa minha, expliquei-me mal :)
O que quis dizer é que estou convencido que Lewis Hamilton, sagrando-se campeão do mundo de F1 no próximo dia 2 de Novembro, terá o relevo das notícias não no feito em si, mas na cor da pele. E que no dia 4 Novembro, sendo eleito Obama presidente dos EUA, os defensores do “Efeito Bradley” podem saír-se com o “Efeito Hamilton” para justificar o falhanço do primeiro e continuarem cheios de razão.
O jornalismo vive hoje de faits divers que dêem ‘cachas’ que vendam. Nada de análises profundas e complicadas que dão muito trabalho!

Um abraço

Paulo Cunha Porto disse...

Ah, sim, Meu Caro Pedro Barbosa Pinto. Um pouco para fazerem concorrência à imprensa de que hoje falo, alguns. Mas penso que os melhores já viram que o caminho é, tem de ser, outro.
Abraço