quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Escapado à ASAE

Não quero discutir os méritos ou deméritos da legislação anti-tabagística, pretendo tão-só contestar a precisão linguística dos titulares de cargos de responsabilidade que falam em dados objectivos sobre o gosto dos portugueses por aquelas limitações. Por muito cientificamente criteriosa que haja sido a recolha, elementos sobre preferências são sempre subjectivos, o campo que abordam contamina-os de disputabilidade pessoal. E isto em quem faz gala de rigor, dizendo não se poder falar de especialistas em cessação tabágica!
É o mal das Democracias, não lhes basta o fundamento da Saúde, têm sempre de arranjar maneira de as medidas se impingirem como populares. Para quem nunca na vida fumou um cigarro, ou seja, este escrevinhador, mas se deliciou com uma dúzia de bons charutos, na esperança de materializar as promessas esfumadas que lhes via, é sempre de lembrar o que, a respeito, escreveu Burton:
Tabaco, divino, raro, superexcelente tabaco, que vais muito além de todas as panaceias, ouro potável e gemas do filósofo, soberano remédio para todas as doenças.
Mas podem responder-me que ele escreveu isso na «Anatomia da Melancolia», sendo o estado dissecado, afinal, o de muito fumador, nestes tempos do fim...

21 comentários:

Ka disse...

Para começar digo que sou ex-fumadora há 3 anos e não sou nem nunca fui radical.

Se por um lado sinto um alivio diário da não dependência, momentos há em que a saudade bate à porta por ocasião de um jantar entre amigos e onde o brinde final era um (vários aliás) cigarro ou cigarrilha (charutos nem pensar) a acompanhar o café... e julgo que será assim para a maior parte das pessoas.

Agora esta forma de porem as notícias a mim parece quase propaganda de mais uma medida do governo....enfim o habitual.

Basta direccionar os inquéritos a quem está á porta do escritório a fumar desesperadamente um cigarro e veremos qual será o resultado.

Pedro Barbosa Pinto disse...

Os escribas de serviço, de joelhos, desenrolam lentamente a carpete vermelha.
Brevemente iluminarão com os seus flashes a passagem do 1º Ministro, por entre fileiras de figurantes subsidiados que o aplaudem efusivamente, até à sua cátedra.
Daí anunciará com ar solene os indesmentíveis números estatísticos que mostram que se vendem hoje menos cigarros em Portugal do que antes da “lei do tabaco” e o seriíssimo resultado de inquéritos feitos a insuspeitos fumadores que o deixaram de ser, aproveitando para mais uma vez realçar o seu próprio sacrifício em prol da Nação.
Já o aumento do contrabando de tabaco, com os consequentes aumentos do crime organizado violento e perca de receita fiscal não serão tidos em conta.
Se legalmente se venderam menos cigarros, então foi porque o santo povo português gostou da lei do tabaco e aceitou-a bem.
AMEN

Anónimo disse...

Sou fumador de cigarros, cigarrilhas e charutos (estes menos, que estão pela hora da morte), mas detesto que o Poder instituído pense por mim. Sempre tive a noção de onde o poderia fazer sem impor a minha vontade aos outros.

Vale isto para dizer que concordo com a essência da lei, mas não com os seus aspectos fundamentalistas.

E ainda não tive oportunidade de exercer a actividade de fumador naqueles locais excepcionados - Casinos e aviões).

Esta ladaínha governativa insere-se nos auto-elogios da pré-campanha eleitoral. Se não há Magalhães para entrega, tem que se procurar outra medida estupenda.

Abraço.

margarida disse...

Convivi muitos anos com cachimbos...
O aroma desse tabaco é divinal. O gosto, pela expressão e pela continuidade, deve ser especial.
O ambiente era bom. Muito bom...
Sei dos charutos, das cigarilhas mas conhecer 'a sério', só conheço cigarros. De muitas marcas.
(quase) tudo o que é usufruído com parcimónia dá prazer sem amargos de boca.
Lamento que não se consiga mais fumar só quando a vontade impera. Que seja tanto por 'vício'. Perde-se algo. Gosto, talvez?...
Ai que me está a apetecer mesmo agora 'prevaricar'! :))

Ka disse...

Margarida,

É por isso que com muita pena minha eu me abstenho desses preciosos momentos de prazer, uma vez que sei que ao primeiro cigarro ou cigarrilha lá se vai o esforço todo.

Caro Paulo desculpe-me este diálogo aqui na Sua "casa"

Beijinho aos dois

Anónimo disse...

As promessas deste fumo são as que faz mais pena não ver cumpridas.

CPrice disse...

Burton enciclopédico ;)

Quanto ao fumo?
que dizer: que fumo, que nunca fumei em locais públicos a ponto de prejudicar quem quer que fosse sem ser sequer necessário haver crianças presentes, que nunca fumei num balcão, que não fumo na rua .. enfim.
que me sinto como que "farinha do mesmo saco?" .. também.

:)

Anónimo disse...

Caro Paulo:
Sempre fui um fumador respeitador dos direitos dos outros. Por isso me encanita esta perseguição anti-tabágica aparentemente fundamentada nos valores da Democracia. Se de uma medida democrática se tratase, certamente que também proibiriam o uso de telemóveis nos transportes públicos, que me incomodam e fazem mal à saúde- pelo menos psíquica
As medidas anti-tabágicas são uma moda do mundo ocidental que me fazem lembrar os conselhos sábios e repetidos durante duas décadas,da Agência Alimentar americanacontra a dieta mediterrânica. Curiosamente, anos mais tarde a dieta mediterrânica passou a ser considerada como a mais saudável. Foi então que se percebeu que o ataque ao azeite servia meros interesses económicos.
Não se passará o mesmo em relação ao tabaco?

margarida disse...

Passa, passa, Carlos!
Essa dos telemóveis é que nem de propósito!!!
Ainda hoje uma carruagem inteira do Metro sofreu as penas de uma pouco edificante 'conversa' dessas.
Acho que há vocações operáticas muito frustradas...
E quanto ao pessoal que 'bomba' ruido através dos auriculares que infernizam quem tem de estar por perto?!
Ah! Dessas torturas não falam!
E o perfume barato?
O mau gosto no vestuário?
Hi..., íamos por aqui fora e nunca mais parava...
Vamos fumar um cigarrito?!
LOL!

nocas verde disse...

me and my cigar
http://webzoom.freewebs.com/pickleheadsgang/maturity.jpg

nocas verde disse...

me and my cigar
http://webzoom.freewebs.com/pickleheadsgang/maturity.jpg

nocas verde disse...

(desculpe o duplo comentário... foi da falta de nicotina!) :)

ana v. disse...

Também sou ex-fumadora (que remédio), mas fiz a mim própria a promessa solenede não me tornar numa fundamentalista insuportável. Cumprida, alías. Até gosto de estar ao pé de fumadores, sempre vou snifando alguma coisa...

Aquilo que penso do assunto está aqui: http://blogs.sapo.pt/editjournal.bml

E também convivi com o delicioso cheirinho do tabaco de cachimbo que o meu pai fumou toda a vida. Saudades... dele e do cheiro da casa.

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Ka,
devo fazer a minha declaração de interesses, também aqui - não sou fumador, salvo as charutadas de ocasiões muito especiais, o fumo dos Outros nunca me incomodou, costumava acompanhar o meu Pai a um ambiente viciadíssimo em que ele jogava Bridge, onde quase era preciso afastar as nuvens para ver o parceiro.
Claro que a coisa tresanda a legitimação das opções do Poder. E sobre o importante problema da dose de sugestionabilidade que há nos inquéritos de Opinião, conto falar brevemente.

o Pedro Barbosa Pinto disse-a toda. Os tabacos sempre tiveram grande importãncia nas Finanças do nosso País, veja-se toda a discussãoque levantou a sucessão de regimes que precedeu a actual solução.
O que me parece é que há uma tentativa de inversão das aceitações naturalmente cobstruídas pela Sociedade, descriminalizando drogas e restringindo os direitos dos fumadores. Se eu fose um, exigiria uma sala de fumo no meu local de trabalho, já que os outros têm as de chuto...

Meu Caro Mialgia,
com certeza que se espera a educação de não atirar o fumo à cara do outro. E quem vai a um local público de restauração ou diversão, fora desse limite, sabe ao que se sujeita. Repare que não sou contra a existência de restaurantes interditos a fumadores, apenas lamento que se queira pôr todos sob uma alçada restritiva!

Querida Margarida,
sabe que a primeira vez que os companheiros de Colombo viram o tabaco, na Ilha Espanhola, perguntaram aos indígenas como se chamava e, por deficiência de interpretação, receberam a resposta relativa não`ao vegetal,mas ao apetrecho através do qual era consumido, no caso um cachimbo de inalação. O que liga bem com o cheirinho de que tanto gosta...

Querida Ka,
be my Guests!

Meu Caro Rudolfo,
esperemos que não haja deste fumo sem o correspondente fogo!

Querida Once,
para esta gente é a própria condição que é criminosa, salvo nos casos conhecidos de governantes em aviões... Faça-Se eleger, ora!

Meu Caro Carlos,
e os telemóveis, cada vez mais, sabe-se também do mal que fazem fisicamente aos que os usam, um dos fundamentos da restrição do tabaco, mais do que o dos passivos.
Não excluo a movimentação de interesses, por detrás disto tudo, mas tendo mais a ver um totalitarismo administrativo informado por Bruxelas, que quer ver um homem novo, sem vícios. Como todos os proibicionismos, dos puritanos de Cromwell às ligas de cidadãos que promoveram a Lei Seca, desconfiam muito de tudo o que dá alegria...

Ah, Margarida, A da escalada!
Eu, desde que ouvi telemóveis a tocar em concertos e em missas, subi também uns decibéis o meu protesto interior, um tanto para o nível da ordinarice, impossível de reproduzir aqui.

Ahahahaha,
Querida Nocas! Isto é que é uma relação!

Querida Ana,
claro que o que importa é o bom senso. Distinguir o que merece contenção sem armar cruzadas, que Essas são necessárias para coisas muito mais ameaçadoras.
Beijinhos e abraços
Depois de jantar, responderei aos comentários dos outros posts.

fugidia disse...

Saio de fininho que estou com gripe e esta caixinha está cheia de fumo...

Ass. Não fumadora que se irrita com fumadores desrespeitadores: (ainda) há muitos...
:-p

Paulo Cunha Porto disse...

Eh lá, compreende-se, estando doentinha. Doutra forma teria de pensar se não anda à procra de colocação na ASAE, Querida Fugi.
Beijinho

fugidia disse...

:-p
é uma coisa a pensar...

Anónimo disse...

Eu fumador me confesso. Mas nada de melancolia e muito menos anatomia, safa...
Abraço, caro Amigo.

Maria de Fátima Filipe disse...

Querido Paulo, concordando em absoluto com a sua análise, aliàs no geral o difícil é não concordar:),mas digo-lhe que para mim, esta lei, muito ou pouco fundamentalista, está muito bem, apoio-a a 200%. E sabe porquê? porque os portugueses duma maneira geral têm muito pouco respeito pelos outros, muito pouca educação e quando alguém se queixa do tabaco é logo olhada como esquisita e a armar-se... agora lá que há inquéritos e sondagem com resultados pré-estabelecidos é sabido, e eu não sou nenhuma anjinha :)

Luísa A. disse...

…… (silêncio tolerante)……

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Fugidia,
fartava-me de rir!

Meu Caro Mike,
áalumas concretizações melancólicas cijo estudo anatómico me parece de recomendar...

Querida Ariel,
sobre as sondagens, tinha um apontamento para publicar, mas tem tão mau som...
Não gosto desta lei, porque cria animosidade escusada conntra uma categoria importante de Compatriotas. A educação deve levar a melhor sobre as proibições, sempre o achei.

Querida Luísa,
ao contrário do de cima, este é que é de ouro.
Beijinhos e abraço