Os perigos de outra civilização industrializada: quando afastado da tradição, o Japonês citadino cai no extremo inverso do descrito abaixo, versando o Americano urbano. Onde este faz do Real um jogo, o primeiro tende a tomar o jogo como Real. O caso da pianista que, furiosa por um marido virtual se ter dela divorciado, desenvolveu esforço assombroso para matar esse personagem simulado a partir de uma pessoa de carne e osso só tem contraponto no facto de ele ter achado tal gravidade no caso, ao ponto de fazer queixa-crime. Sim, eu sei, a razão da detenção dela foi a utilização indevida de uma identidade e dados pessoais que se queriam no domínio da confidência. Porém, o que importa é notar o abastardamento do que Huizinga considerou a essência do Lúdico - o elemento de fantasia concretizado no fingir, dissolvendo-se quando expirado o limite espácio-temporal do jogo. Já não estamos diante do perigo, avassalador mas externo, que Baudrillard viu na transformação das imagens transmitidas em Realidade. É no plano do nosso íntimo, dos nossos sentimentos, que o vírus agora encontra terreno fértil para minar.
Claro que, por enquanto, não vai muito além do País do Tamagoschi. Onde se procurava induzir a responsabilidade e o afecto, descamba-se agora na furiosa vingança da desagregação das uniões. Como na vida, enfim. O próprio nome desse duplo construído e partilhado diz do investimento pessoal assombroso que se verteu nele: Avatar!
Claro que, por enquanto, não vai muito além do País do Tamagoschi. Onde se procurava induzir a responsabilidade e o afecto, descamba-se agora na furiosa vingança da desagregação das uniões. Como na vida, enfim. O próprio nome desse duplo construído e partilhado diz do investimento pessoal assombroso que se verteu nele: Avatar!
8 comentários:
Lembrei-me de uma reportagem que vi (meio enviesada, confesso) sobre o "Second Life" e como essa "vida alternativa" teria destruido famílias "felizes" das outras, de carne e osso. Espero que repare nas aspas da palavra "felizes"...
E já agora, afilhado - :) - o tamagoshi já não foi totalmente ultrapassado? (lá daquele lado já se deu o epíteto de "quando eu gostava de"... como se pré-histórico fosse) :)
BJ
Foi, Querida Nocas, mas por brinquedos piores, com se vê. E deseducativos, estes!
As aspas não escaparam. Muita famelga se acha crucificada numa aspa, sem que disso ainda tenha sido informada. O pior é que já nem a ficção é um escapismo, como dá a entender a historieta do link...
Beijinho
Quando a ficção se sobrepõe à realidade... Lembrei-me de Philip K.Dick.
Quando li a notícia, encontrei esta:
'Fart gas' link to blood pressure
http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/7686911.stm
Toca de enfardar mais umas feijoadas, cozidos e couvadas...
Abraço.
Há fronteiras difíceis de traçar, sobretudo quando as emoções se sobrepõem à razão. Os mundos virtuais têm esse risco de produzir grandes alienações. Não seria talvez um risco grave se produzissem alienações felizes. Mas se é para reproduzir as «alienações» do mundo real, então francamente! :-)
Ahahahaha, Caro Mialgia,
mais surrealista só a da modificação da camada do ozono da Nova Zelândia pelo colume de gases dos carneiros...
É mais do que verdade, Querida Luísa, quando o próprio Ideal se degrada... estamos fritos!
Beijinho e abraço
Nada de estranho querido Paulo. Quero eu dizer que no mundo das emoções tudo é possivel, e vindo das pessoas mais inesperadas e "bem compostas"... Parece que está muito em voga estas "relações" virtuais. Eu pasmo! Sinto-me muito old fashion.
Alienação pura. Perigosa, como se vê, para mentes que não sabem destrinçar a realidade do virtual. Livra! :-)
Querida Ariel, claro que a potenciação desta ficção vivida como se realidade fosse poderia levar, na mente francamente abstraída da protagonista, a pensar a sua prisão como resultane do "assassínio" e não da indevida apropriação e utilização de dados vedados.
We are two of the kind
Livra, na verdade, Querida Ana. Ainda me lembro das crianças que voluntariamente deixaram morrer o Tamagoschi serem submetidas a acompanhamento clíico na área mental, por estarem a formar um "carácter de crueldade". Quando as entidades públicas alinham por esta imposição a partir do virtual, que admira os particulares exprimirem os seus desesperos indiferenciadamente?
Beijinho
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