Alegoria Com Vénus e o Tempo, de Tiepolo
Muitos conhecem bem cedo o que a vida reitera e confirma, alguns demoram mais a ser surpreendidos, outros são prevenidos pelo exemplo alheio; e até nos casos de menos erosão a dúvida faz os seus estragos, pois este é o domínio em que, ao contrário de outras faixas e diversas rodagens, a ultrapassagem realmente custa. Será da essência de quem tem asas usá-las para atingir alturas que os demais não podem acompanhar, mas não é menos certo que os condenados à Terra num nível superior ao dos vermes têm igualmente uma natureza inescapável, a de continuar a tentar. Oiçamos então o que podia bem ser um Fado, saído da pena de António Feijó
O AMOR E O TEMPO
Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu, subiamos um dia
Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adeante
E, com o tempo, acelerava o passo.
-«Amor! Amor, mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pôde com certeza caminhar
A minha doce companheira!»
Subito o Amor e o Tempo combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
-«Porque voaes assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» N´esse momento,
Volta-se o Amor e diz com azedume:
Tende paciencia, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!...
Muitos conhecem bem cedo o que a vida reitera e confirma, alguns demoram mais a ser surpreendidos, outros são prevenidos pelo exemplo alheio; e até nos casos de menos erosão a dúvida faz os seus estragos, pois este é o domínio em que, ao contrário de outras faixas e diversas rodagens, a ultrapassagem realmente custa. Será da essência de quem tem asas usá-las para atingir alturas que os demais não podem acompanhar, mas não é menos certo que os condenados à Terra num nível superior ao dos vermes têm igualmente uma natureza inescapável, a de continuar a tentar. Oiçamos então o que podia bem ser um Fado, saído da pena de António Feijó
O AMOR E O TEMPO
Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu, subiamos um dia
Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adeante
E, com o tempo, acelerava o passo.
-«Amor! Amor, mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pôde com certeza caminhar
A minha doce companheira!»
Subito o Amor e o Tempo combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
-«Porque voaes assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» N´esse momento,
Volta-se o Amor e diz com azedume:
Tende paciencia, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!...
15 comentários:
Delicioso este poema :)
Não o conhecia, nem ao autor.
E sem dúvida que os tempos que correm nem sempre ajudam!
Beijinho e um bom sábado
Temos Big Brother, é, Amigo? :)
Como é que soube que ando a ler António Feijó? :)
Voragem do tempo...; não se compadece nem dos amorosos...
Beijo
Adeus népias!
Humpfrrrt!
Aqui, sossegadinhos, que quero caminhar lado a lado com o meu amor, sem pressas, ora!
:-)))
O amor e o tempo são travessos e é curioso que, se é mesmo verdade que normalmente o amor foge com o tempo, também não deixa de o ser se dissermos que o tempo foge com o amor. Carpiste-a bem, caro Amigo.
Um abraço.
Querida Ka,
e eu respondo com o voto de um bom Domingo.
O Feijó era bastante interessante. Nem todos os poemas se aguentam bem, COM A PASSAGEM DO TEMPO, mas este é um dos que acho que sim.
Querida Cristina,
é que a paixão concorrente que o Amor tem pelo Tempo, não lhe deixa margem para uma piedade universal. É a sina, pela intensidade, os amores egoístas sobrepõem-se smpre aos generalistas.
Querida Fugidia,
só pondo-lhe trela (ao Amor), para o impedir de abalar... Mas cuidado, esses acessórios também se desgastam...
Meu Caro Mike,
obrigado, é certa essa reciprocidade das fugas. A diferença entre o tempo em que somos felizes e aquele em que, pior edo que já só querer lembrá-lo, de todo não o queremos recordar.
Beijinhos e abraço
não acho que o amor fuja com o tempo.às vezes cristaliza-se
“…não é menos certo que os condenados à Terra num nível superior ao dos vermes têm igualmente uma natureza inescapável, a de continuar a tentar.”
É bem verdade, caro Paulo, embora fosse um acto de caridade avisar alguns de que com a fantasia de super-homem que compraram nunca o irão conseguir.
Querida Júlia,
"às vezes", disse tudo.
Mas três vivas a essas Vezes!
Meu Caro Pedro Barbosa Pinto,
lá isso, lá isso... Porém, eles não nos acreditariam. A esperaça neste tipo de sucesso é humana, demasiado humana...
Beijinho e abraço
Engraçado, até o Feijó confunde amor com paixão.
O amor precisa de tempo, não foge com ele. Acontece que às vezes não chega a tê-lo. Quando o tem cristaliza-se, como diz a Júlia de uma forma tão bonita.
Beijinho
Querida Ana, por acaso até me tinha ocorrido o distinguo. Será que essa renitência a uma diferença que parece evidente traduz uma opção consciente pela intensidade em detrimento da solidez?
Conseguir, em vez de ter?
Beijinho
desculpem, mas não sei porqu~e, lembrei a canção :
"O AMOR ESTÁ NO AR........"
uuuuhhuhuhu
Ehehehehehe, Querida Júlia, esperemos que o espírito seja de respirar melhores ares - v. g. esse; e não de que ele vá pelos ditos.
Beijinho
Olá meu estimado amigo Paulo Cunha.
Que bela interpretação e fotos.
Meu deus que lindo , como é doce o sentido AMOR.
Passei para conhecer seu blog, adorei.
Uma semana abençoada para vc. Mil rais de paz e luz.
Beijos da amiga do lado de cá.
Regina Coeli.
Te aguardo em meu cantinho.
Querida Deusa Odoyá,
Regina,
a casa é Sua, claro está. Que bom que gostou do post! Terei todo o prazer em visitá-La.
Beijinho
Paulo, a intensidade da paixão é muito mais apelativa... o pobre do amor fica sempre para segundo plano. O que até nem está mal, bem vistas as coisas: o amor só começa depois, quando a paixão abranda...
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