sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O Factor de Alá

Claro que não me parece que as palavras oficiais do Governo Indiano, ao separarem responsabilidades nos atentados de Bombaim dos politicos e dos militares (mais serviços de Inteligência) do Paquistão odiado correspondam ao que pensa. É, acredito-o mais, uma tentativa de quebrar a unidade, logo a força, do vizinho inimigo. Quanto à actual situação em Islamabad, não tenho pingo de optimismo, mas pela razão contrária. Nunca gostei muito de Musharraf, que fazia jogo duplo entre as simpatias pelo islamismo militante da secreta que não dominava e dos meios castrenses cujo controlo Washington o convenceu a abandonar, apenas não o notificando do que para qualquer observador era óbvio, ser essa demissão o prelúdio à retirada do tapete.
Mas ainda considero mais temível o actual regime apadrinhado pelos Americanos. Um governo demagógico como o do Sr. Zardari, a cada dificuldade, quererá tirar-se dela mostrando cara feia que agrade à fervente sentimentalice popular anti-hindu. Como ainda agora, ao recusar extraditar para a Índia qualquer Paquistanês envolvido, limitando-se a admitir julgá-lo pelos seus tribunais se as provas de Delhi forem esmagadoras.
Não deixa de ser irónico que a Índia, durante tantos anos um aliado de facto da União Soviética, seja agora amigo mais fiável para o Ocidente, por via do radicalismo muçulmano armado por ele. A única coisa que me intriga é qual será a posição da China: muito tempo apoiante do Paquistão contra a potência hostil a Sul, en que medida arrefecerá esse junção de vontades com a revolta de agitadores maometanos no seu território?

9 comentários:

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo com a sua análise, Meu Caro. Esta história das tensões entre a Índia e o Paquistão é cíclica, por vezes mais inflamadas, e espero que este caso seja só mais um episódio. Não me parece que aproveite a alguém um conflito generalizado. Nem aos EUA nem à China, nem à Rússia.

Abraço.

ana v. disse...

Todo um leque de opções perigosas naquelas insondáveis cabeças, como muito bem simboliza a imagem...
Beijinho

Gi disse...

Acho que eles nem passam bem sem estas tensões bélicas.

Maria de Fátima Filipe disse...

Querido Paulo, adoro os penachos destes uniformes, são espectaculares.
Indo á substância, subscrevo completamente a sua análise. Ademais, não confio no Paquistaão, seja ele de Musharraf, seja de Zardari,seja de quem for. tornou-se um estado ingovernável, falhado, e perigoso pelo poder nuclear que possui.A Índia apesar de tudo sempre teve outra
consistência independentemente das alianças conjunturais.

Paulo Cunha Porto disse...

Desde a própria partição, Meu Caro Mialgia. Tudo seria mais fácil se não se tuvesse cedido à tentação de armá-los. Agora é o mundo inteiro que fica sobre brasas.

E, Querida Ana, na fronteira onde a foto foi tirada repete-se todo o santo dia um ritualismo de passos entre o marcial e o desafio que... só visto. Não há qualquer latência do bélico, é apenas um arrastamento dos preliminares à espera da consumação.

Querida Gi,
há muita razão no que aponta, enraizou-se de tal forma nas populações o ódio ao vizinho que é grande tentação de qualquer governo demagógico fazer subir uns decibéis a confrontação para esconder as dificuldades em internamente governar com acerto.

Querida Ariel,
uma Águia que não gostasse de penas!
A imagem parece de um combate de galos, com aquelas cristas. Mas ao contrário dessoutra violência, ninguém consegue proibir a que está por detrás do confronto fotografado.
A situação paquistanesa é muito perigosa, sem dúvida, pelo armamento nuclear que corre o risco de ficar em roda livre. Mas mesmo sob a direcção hierárquica aceite internacionalmente não vejo razões para nos tranquilizarmos.
Beijinhos e abraço

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ana v. disse...

Sim, já vi um documentário sobre esse ritual diário de provocação e exibição de forças. Uma luta de galos, como dizes.

Paulo Cunha Porto disse...

Vou averiguar, Caro Filomeno.

Só visto, Ana, é de um primitivismo (modernissimamente armado) que transforma qualquer mirone em antropólogo!
Beijinho e abraço

Anónimo disse...

Te envié las declaraciones en e- mail (El Mundo, La Voz de Galicia)