domingo, 21 de dezembro de 2008

Retrato Falado

Volto pela urgência de uma notícia a comentar:
Hoje, no Porto, grande parte da População Madeirense voltou acreditar que existe o Pai Natal. Eis como foi referenciado...

A Corda Esticada

Lendo o magnífico texto de Paul Auster sobre o superfunâmbulo Philippe Petit, autor da façanha de atravessar sobre um fio esticado o espaço que separava as duas torres do desabado World Trade Center, não pude deixar de reconhecer que foi esse o melhor meio de vencê-lo, não o atentado que destruiu os edifícios tidos por orgulho do Materialismo.
Para além de levar a Vida para alturas maiores, reduziu os monstros de betão com nome imortalizador do Comércio a escravos que segurassem a base da Liberdade difícil de percorrer e alcançar, em vez de se render ao império também comercial de trocar mortalmente anos por virgens paradisíacas.
Nesta correnteza de considerações, constato não ter mais tempo para dedicar à actividade blogosférica, cessando assim de lamentar-me, por muito duro que seja deixar-Vos.
Que as Festas Felizes deste final de ano sejam apenas um degrau mais na Felicidade dos Amigos desta casa.

sábado, 20 de dezembro de 2008

A Ensinadela

Adquiri ontem um livro que procurava, desde os meus 17 anos. A justificação patrocinada por Pombal, extensa de 522 páginas, da reforma com que tornou a Universidade de Coimbra dócil, expulsando os Jesuítas que dominavam a Docência. O livro é de um facciosismo evidente e indescritível, que, visto à luz do nosso tempo, até passaria por ingénuo, caso não tivesse servido para fundar arbitrariedade. No afã de contrariar a Linha Aristotélica até aí predominante, chega a acusar ipsis verbis de monstruosidades os princípios filosóficos a abater e a atribuir-lhes fins conspirativos. Mas terá sido o tom tão sarrafeiro que levou ressabiados contra os Homens de Santo Inácio, como esse Latino Coelho precursor de propagandas malignas, a chamarem-lhe livro famoso, benemérito da civilização pátria.
Não consegui deixar de confrontar a tentativa de instrumentalizar a aquiescência dos súbditos contra os Veiculadores do Ensino, com a que nos nossos dias, embora com pressupostos diversos, tenta quebrar a espinha à classe professoral, tornada bode expiatório da incapacidade governamental de pôr de pé programas e estruturas à altura das necessidades do País.

Delícias Turcas

A Morte Brincando Com a Medicina, de Hartman SchedelRespigo de um livrinho de 1881 uma informação que nos deve dar que pensar, a propósito da responsabilidade dos Médicos, nos nossos dias. É a de que na Turquia Antiga, mas até meados de Oitocentos, quando morria um pacente por manifesta ignorância de um clínico, era este condenado a trazer ao pescoço duas tábuas donde pendesse uma série de campainhas e nessa conformidade passeado contnuadamente pelas ruas. De cada vez que pedisse para descansar, era obrigado a pagar uma quantia determinada, sendo a função dos guizos a de chamar as gentes para que o vissem e pudessem fugir dele, em sentindo-se doentes.
Nos nossos dias, por dura que até seja a disciplina da Ordem Profissional, escassos são os casos em que se obriga a indemnizar. E os despertadores da atenção que são os Media, epígonos dos sinos, não cumprem função equivalente, muito por culpa da catadupa de notícias do quotidiano, dando conta de situações logo esquecidas e substituídas, enquanto o sistema antigo apelava à memória, mais do que ao usa e deita fora.
Entretanto, ocorreu-me que tendo sido praticada pelos naturais do mesmo País a traumatomância, a adivinhação do Futuro pelo formato das lesões recebidas, conhecida de todos os soldados, dos mais humildes aos maiores generais, que de cor sabiam o «Ikhtiladj Nameh», ou «Livro das Feridas», no caso do óbito se dever a ferimentos incompetentemente tratados, os maus profissionais postos em xeque poderiam defender-se, aduzindo a atenuante de haverem proporcionado ao moribundo um mais lato conhecimento de si...

Outros Dias da Rádio

Chegou ao fim o programa que durante sete anos ouvi, na Rádio Renascença, «Com Sal e Pimenta». Devo dizer que gostava dele, e que acho excelente o nome encontrado, mas que considero não corresponder nem um pouquinho ao que oferecia. O picante e o grão de sal estavam muito mais presentes na comparação óbvia que suscita, o «Flash Back» dos gloriosos primeiros tempos, em que havia um apelo constante na marcação de pontitos de actores ou ex-actores no espectro político-partidário. Penso que esse modelo cansa tremendamente hoje, no momento em que a grande maioria do público atento está saturada dos duelozinhos de facções.
A vantagem do programa qua agora finda estava, curiosamente, na sua limitação: eram intelectuais e não políticos de primeira linha que discutiam, o que fazia as divergências e sintonias convergir para uma efectiva procura de entender a Actualidade, não de mobilizar ouvintes para a visão que cada um tinha dela. E não foram poucas as vezes em que me despertaram para factos que me haviam passado despercebidos durante a semana, apesar de me crer não tão desligado como isso dos sucessos noticiados.
A Francisco Sarsfield Cabral, João Luís César das Neves, Manuel de Lucena e João Bénard da Costa, a nota de simpatia, por terem encontrado o tom próprio da abordagem, sem decalques ou golpes publicitários que levassem a encolher a dimensão dos seus pareceres.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

É Muita Fruta!

Talvez tenha sido este desenho dos efeitos do jet lag que tenha levado à descoberta de determinado remédio para as viagens prolongadas de aeroplano. Ou pode ser que a ideia tenha vindo de certo apelo que também se qualificar como avião... O meu receio é um só: será que funciona com os dois sexos? E, caso contrário, não será nova discriminação?
E espero que não tentem, como aqueles, com outro objectivo, substituir as pílulas por melancias. Caso contrário, arriscam-se a permutar o fruto apetitoso por um intragável melão... Aquele com que ficarão, claro!

Passar ao Lado

Sou um distraído paradigmático. De Inverno, o guarda-chuva, de Verão, os óculos de sol, são atestados e vítmas, em simultâneo, da minha incapacidade de conferir concentração aos avatares da Rotina. Devolver o troco que vim de receber, ficar com esferográficas acabadas de me serem momentaneamente emprestadas, estender na biblioteca o cartão do supermercado, são características que só não aspiram à promoção a marcas de personalidade porque, uma a uma, são facilmente encontráveis em outros frequentadores dos mesmos meios. O todo é que podia ser desoladoramente identificante.
Há casos mais graves, como o de trocar o nome da Amiga com que se está, levando-me a apressadamente convocar a explicação de Michel Déon, que atribui a distracção diante de uma Mulher ao facto de Ela nos perturbar. Isto para evitar males sérios, como a suspeita de um interesse comparativamente menor, sempre na ponta da língua acusadora das Atingidas pelo erro. É a luta permanente por nos defendermos através da paradoxal exibição de um estado indefeso que cative. Mas a melhor escapatória, porque aplicável à própria crítica que a todo o momento nos impele a morder a língua, ainda é reparar que há casos piores. Como este, que me consola por estar longe de poder dizer-se que, sendo doutros, enforme um mal, já que é impossível dizer que não foi fecundo.

Presente!


Jingle Bells...Kristen Bell


quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Barretes Encarnados

Não, não é antecipação de Sexta! Mas não podemos deixar de nos debruçar sobre os números surpreendentes com que nos deparamos. Diz que em cada cinco Mulheres uma tem uma fantasia secreta de Pai Natal. Não pretendo tirar a prova dos noves com as Leitoras do Duro, embora o assunto seja interessante. Afinal, se dissessem da respectiva posição neste contexto, a fantasia deixaria de ser secreta e o inquérito estaria subvertido.
Mas podemos analisar: repare-se, são Elas que nutrem a fantasia, não se disponibilizam simplesmente a corresponder a uma masculina. Talvez porque impere no respectivo espírito a convicção da capacidade de presentear um homem com tudo o que queira. E então o fundamento acaba por ser o mesmo que tinha ainda agora afastado...
No Pai Natal dos 8-0 do milagre que se queria hoje, nunca acreditei. Mas tenho aqui uma excelente razão para alimentar fé da mesma natureza, embora mais depilada, digo depurada.

Barras no Literalismo

Sim, eu sei que a vida cubicular da cidade grande é propícia a uma hipersensibilidade que deixe o travo amargo de uma vida engaiolada. Não só os apartamentos, longe do nível do natural do solo e hermeticamente cerrados, como a rotina que pode, nos momentos de fragilidade maior, constituir a mais opressiva das grades, no íntimo de cada ser à beira do desespero. Também a referência permanente oscilando entre a solidão e o remorso que é a identificação com os animais confinados a jaulas de vária dimensão, tomando o lugar da própria pena deles. Para além do Quixotismo em que cada um de nós busque a sua salvação terrena condenar, quase fatalmente, à devolução à procedência, metida nos ferros protectores e disciplinadores da ânsia de voar para longe.
Sim, eu sei. Mas seria preciso entender as coisas tão à letra?!

Vozes de Burro...

Uns quantos gays organizados têm a suprema lata de atacar o Presidente Eleito dos EUA por ele haver convidado um eclesiástico opositor da extensão do casamento ao mesmo sexo para um tradicional sermão inaugural. Nunca tinha ouvido falar neste religioso. Pelo que dizem, parece-me ter traços muito simpáticos, como os de promover o empenhamento social em minorar a infelicidade dos desmunidos e na permanência do nexo moral com a linhagem que nos fez.
Mas esta gente radicalizou-se facciosamente ao extremo e, de tanto o repetir, se calhar até já acredita que quem é contra o casamento homossexual é um inimigo dos que se "orientam " para esse lado. Era bem feito que todos os que assim são caluniados também viessem a crer nessa contrafacção das suas posições; e que passassem a agir em conformidade.
Pobre Obama, ainda nem tomou posse e já vê uma ostensiva tentativa unificadora passar por questão fracturante. Os radicais manifestantes da sexualidade minoritária querem estender ao Partido do Burro as suas práticas preferidas, está visto.

No Jobs For The Boys

Uns bons anos depois, a frase tão desmentida do Eng. Guterres, finalmente, faz sentido. Mas só para os incondicionais cultores dos produtos da Apple...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Memória Embonecada

Tinha prometido à Ka fotografia da Árvore de Natal da minha infância. Procurei uma a cores, que as há. E porque a superstição das nossas assimilações quer que o cromatismo variado dê melhor conta da Felicidade. Hoje, desisti, resolvendo atirar-Vos com esta, a preto e branco. Será mais adequada a um tempo em que já não está completa a equipa, em que se diluiu a vontade de estar contente, só os Afectos Supervenientes que também Vós sois levando a fazer das fraquezas forças para resistir a deixarmo-nos submergir pelo espectro de Scrooge.
A minha Mãe, nesse tempo em que a Realidade não Lhe tinha sido subtraída, denominava esta foto como «Cinco Bonecos». O da extrema-esquerda, quem diria, é aquele que se deleita nestas conversas virtuais com a Vossa Simpatia. Que é uma maneira de reencontrar Alegria. A possível, como diriam os reporters televisivos.
Começo hoje a desejar Aos Que aqui passam uma Santa Quadra.

Campainhas de Alarme

O Tocador de Campainhas, de Victor KatyuschikEstá muito certo que tentem vender uma t-shirt com um dispositivo a aplicar aos consumidores incontinentes, que dispare um sinal sonoro. Afinal, apesar das exortações do Banco de Portugal que passem por novos Elogios da Loucura, os alienados de outrora eram atados a sinetas, nos hospícios, para que os vigilantes soubessem quando se encontravam eles mais agitados. E o excesso consumista é a suprema insanidade da nossa rotina de hoje, logo a fúria controleira...
Mas gostava de ter visto o fair play de facultar o mecanismo descrito, antes da compra da camisolinha. Ou a cessão gratuita dela. Para que a lógica não fosse tanto uma batata!

Lá Vai Lisboa!

Dois Candidatos, de Mark De Muro
O recurso a imagens pelos Políticos é quase tão divertido como a tentativa de os futebolistas empregarem correctamente adágios. O Dr. Costa lembrou-se de comparar a escolha oposicionista do Dr. Santana para concorrer com ele com a fábula da Cigarra e da Formiga. Ora, eu nunca ouvi acusar o ex-Primeiro Ministro de não fazer coisas, pelo contrário, os seus mais veementes críticos acusavam-no de fazer as erradas. Enquanto que a Cigarrita se tinha entretido de papo para o ar. Não creio que o actual Edil se estivesse a comparar a ela, sabendo-se como o desfecho lhe foi desfavorável, mas até se poderia achar-lhes algumas parecenças: afinal, antes do período das dificuldades, o autarca pôs-se a cantar, de galo, muito embora.
Entretanto, afirma-se no PSD que o nome do antigo líder é consensual. Não sei se isso lhe fará bem, os melhores resultados no Passado foram sempre conseguidos contra ventos e marés, no próprio partido. Os mesmos que tenho a certeza de continuarem a existir, mas que se calam por acreditarem na derrota e no enterro definitivo da figura que tanto as incomoda. Se eu tivesse um euro por cada notável laranja que está à coca de uma humilhação eleitoral de PSL, ainda faria umas almoçaradas valentes.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

La(nça)mentos

Estátua do Atirador de Bebés, no Parque Vigeland, em Oslo
Fico banzado com as certezas de alguns políticos. Assim com a do Eng. Cravinho, corrigindo o veneno lançado por um político do Passado cujo nome não quero recordar. Como pode ele estar tão seguro de que neste Cantinho cada vez mais murcho e atrofiado não venha a eclodir uma explosão de descontentamento semelhante à da Grécia?
Não procurei as explicações nos jornais do dia. Esses, quando muito, servem para repetir palavras e constatações. Para alguma coisa ser dilucidada é preciso recorrer a taumaturgias mais radicadas na Tradição Popular, por exemplo.
E dei, num alfarrábio de 1909, com a forma como no Algarve se tornavam mansas as crianças de peito, levndo-as as mães no Dia de S. Marcos às ermidas onde é venerado o Santo, encostando então as cabecitas dos pequerruchos à do boi do Evangelista. Mas com a particularidade de, sendo elas raquíticas e enfezadas, atribuindo-o a bruxas que lhes sugariam o sangue, as terem seguidamente de conduzir a uma encruzilhada com gente da povoação reunida à volta de fogueira, onde um homem que se há-de chamar sempre Manuel o petiz atirará para os braços de uma Mulher que será sempre uma Maria, devolvendo-o esta da mesma forma, ambos gritando à sua vez: Toma lá M, este engatilhado, este ensarilhado, este engatado. Repetem a prática nas duas encruzilhadas seguintes, ficando o tenro aremessado manso e livre.
Ocorreu-me logo que o bebé se chamasse Portugal e o Manel e a Maria da circunstância fossem PS e PSD, alternando o porte do pequeno. Com a incompetência dos políticos da partidocracia, não admira que só tenham conseguido a metade da cura que mais lhes interessava - ficámos realmente mansos, mas continuamos engatados. Não creio em bruxas, mas que as há...
E com certeza reforçada fiquei da minha interpretação, ao saber da data em que o Pobre S. Marcos é celebrado, mais um martírio a que não O poupam. Convido todos os meus Leitores a abrirem a caixa de comentários, onde, no primeiro, a desvendarei.

Antecipação do Fim

Pronto, eis-me notificado do termo da minha actividade bloguística. A previsão de que os teclados serão abolidos e substituídos por ditados para o computador não me serve, de todo. Com os frequentes enganos durante a confecção, o meu vocabulário reactivo degrada-se de ordinário, nos dois sentidos da expressão. Haveria de ser lindo, uma ordem prematura de postagem e uma caterva de palavrões lançados ao Éter! Além de que me faz impressão constatar tão breve vida no verbo teclar. Espero bem que não eliminem também o rato, ao menos para preservar um sentido útil ao vício de mão dos blogadores incontinentes...
Já no que respeita à abolição do clássico horário laboral, surge-me a mais imprecisa de todas as melancolias, a de ver relegado para a prateleira das coisas incompreensíveis a música que deu brado na minha juventude e o vídeo junto faz por conservar na memória. «9 To 5», ou «Morning Train», de Sheena Easton foi o disco que repousou no prato do pick up da minha Alta Fidelidade enquanto off, muito por durante anos achar que me dava sorte. E que lá permanece, há outros tantos, devido a ser um animal de hábitos.
É um Mundo de Referências que se desvanece!

Recolher Quase Obrigatório

Muitos se interrogarão sobre o motivo que terá o Executivo do Dr. Costa para distribuir castanha pelos vendedores da dita, cobrando-lhes uma taxa exorbitante por uma pequena extensão do horário de venda. Tenho como óbvia a resposta, de tanto ouvirem falar em castanha pilada, pensaram ser obrigatório um esforço camarário de tirar a pele. E o consentimento numa barraca de farturas, lamentado na segunda parte da notícia linkada, denota o entendimento com o Governo, tão celebrado a propósito do acordo das entradas na Terceira Travessia do Tejo: quando o Ministro Teixeira dos Santos reconhece não poder cumprir os números que anunciara, nas grandes variáveis económicas, a Câmara avança com fartura sucedânea, que dê a ilusão. É presiso é picicologia, como quem diz, esperteza saloia.

Outro Paraquedismo

A menina da foto tem hoje 51 anos e acha que ser, ou ter sido levada ao colo pelo Pai assassinado lhe dá o direito de ser Senadora. Caroline Kennedy fez chegar ao Governador de Nova Iorque uma nota sobranceira, manifestando interesse no cargo, passando alegremente por cima de muitos políticos experientes. É coisa lamentabilíssima. Como se sabe, não gosto de eleições com partidos envolvidos, porque tenho sempre a convicção de que acabarão por revelar-se... partidas. E de mau gosto. Mas para nomear livremente gente sem currículo, só Alguém que não tenha a sua legitimidade dependente de votos e a liberdade tolhida pela coleira de uma facção institucionalizada.
No sistema Norte-Americano até faz sentido que algumas pessoas virgens de exercício de cargos públicos cheguem a eles, os políticos profissionais e carreiristas acabam por cansar. Mas, na lógica do sistema, que sentido fará a opção por alguém que, não se apresentando a votos, só tem as credenciais familiares para ser seleccionada, contra outros?
A América, porque eram jovens, bem-parecidos e baleados, continua a sentir-se em dívida para com esta família, esquecendo-lhes as ligações à Mafia, a Guerra do Vietname e uma quantidade de escândalos de tamanho variável. Porém, será a promoção fora do espírito do regime a melhor forma de quitação?

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Aparar o (Pre)Conceito

O Amigo Bic Laranja, em achega brilhante ao postal sobre os piercings, ajuntou a honrosa demarcação do espírito do tempo em que o Arq. Saraiva englobou as tatuagens.
Sempre me impressionei com a ideia de que alguém possa querer irreversivelmente vincular o corpo (não estou a falar dessas brincadeiras temporárias). Faz-me espécie ver como o que era coisa de marinhagem em risco de perder a memória das referências de partida, ou de marginais em sede de afirmação, se arrisca a transitar para juventudes mimadas. Porém, também os anéis começaram por designar escravos, antes de Senhores, Reis, Bispos e Papas os adoptarem.
Pode ser que a fascinação de tatuar comece por aparecer como admissível num circunstancialismo apologético:

A Minha Iniciação

Manda a Gi que eu manifeste os meus primeiros passos no Mundo das Letras. Já aqui dei conta dos relativos ao período em que era absolutamente principiante. Urge, portanto, retomar o fio da meada onde ficou a ponta por pegar.
Uma das primeiras leituras foi a das Aventuras de Tintim, que me fascinaram, nem tanto pelo protagonista, mas sim pela inolvidável figura do Capitão. Penso que aí fiquei de vez configurado no sentido de identificar a perfeição não com o sucesso, muito mais com a disponibilidade de aplicar-se totalmente, entrincheirada em separações radicais do que se gosta e daquilo que nos impressiona mal. Segui pelo Astérix a que ainda volto bastante e muito, muito, pela escola Disney Brasileira, de que ainda conservo um malão cheio, para possível êxtase das traças. Passei da Banda Desenhada para os textos com Blyton, onde detestava os Sete, porque assumidamente infantis e desconfiava dos Cinco, os quais via como demasiado preocupados. Era a série »Mistério», com o Gordo & Cª. a pregar partidas ao polícia Arreda que me enchia as medidas, talvez por paixão precoce pelos disfarces físicos e para alimentar uma costela anarquista contra a baixa autoridade, em ordem a aliar-me à de posto mais elevado.
Fora disso, também já contei algures como a minha Mãe me passou para as mãos os romances de Júlio Dinis e a «Guerra e Paz» de Tolstoi, enquadrando muito embora a leitura com a explicação histórica, facto que me causou algum traumatismo de que ainda me não livrei.

Mas, logo em seguida, veio o conjunto que quero hoje enaltecer, a «Colecção Histórias», da Bertrand, onde tomei o primeiro contacto com muitas obras de que logo quis ler uma versão mais adulta. Era coisa admirável para fomentar hábitos de Leitura. Livros que me marcaram, como «Os Três Mosqueteiros» e «Vinte Anos Depois», de Dumas, o «Robinson Crusoé», de Defoe, ou «A Flecha Negra», de Stevenson, aí tiveram o primeiro contacto. O facto de alternarem as páginas de texto corrido com as de uma súmula, em quadradinhos, tornavam-nas particularmente apelativas e eficazes, em ordem a despertar a curiosidade e o seu filho, o vício. Aí, com o Sinbad, vivi a primeira aproximação às «Mil e Uma Noites», que, posteriormente, li por completo, quer em boa versão portuguesa da opção realista de Mardruz, quer numa edição setecentista do elegante Galland, que possuo. E ainda guardo o projecto de me abalançar à transposição de Burton, no Inglês em que ficou. Hoje por hoje, depois de ter estudado não sei quantas páginas sobre o Robim dos Bosques, quer em ensaios sobre a lenda, quer em ficções, é ao tríptico constante deste grupo que me mantenho fiel, no estabelecimento da ortodoxia narrativa.
Em sequência, viria outro conjunto importante, o da «Biblioteca dos Rapazes», da Portugália, começando pelo terceiro da série Dumasiana, «O Visconde de Bragelone», não publicada na anterior. Logo após o que a Entidade Materna me achou maduro para me meter nas mãos «A Cidade e as Serras». Estava lançado!

De Saco Cheio

Posted by Picasa

Tenho de dizer que, no affaire Pardon, estou totalmente pelo lado da Carla Bruni, ao pretender encher o saco de euros, para os doar à Caridade. Não só porque o fim é bom, como porque acho que Ela foi alvo de um insulto duplo. Não estaria tão certo, caso a sociedade da Reunião que lhe estampou o nu se tivesse ficado por tal ousadia. Parecer-me-ia, então, que espremer os direitos de imagem não honra qualquer estrela, como a que, por razões várias, a bela Italo-Francesa se tornou.
Todavia, a frase, combinada com o nome da firma, é acintosa, ao ponto de degradar gratuitamente a percepção do matrimónio dela com o Presidente, coisa que merece sanção dura. E, para cúmulo, o dono da empresa que conseguiu esta publicidade de sonho, veio, com uma justificação seráfica, invocar em seu favor outra, em bem mais dúbio sentido, a da Primeira Dama. O que, sob a capa da inocência igualizadora, é evidente jogo de significações ofensivo, como na anedota com barbas paternatalícias, em que um bem intencionado orador saudava o eminente Homem Público e a sua distintíssima esposa, também de todos conhecida como notável mulher pública...

Apontar é Feio

O Sr. Sócrates não precisava de mobilizar apoiantes na Burguesia, pelo que nos podemos interrogar por que carga de água resolveu culpar o PCP (o outro) da organização de protestos na margem Sul. Com efeito, em vastos estratos da população daquela área o que o falador político tenderia a pretender semente de repulsa pode, mais provavelmente, dar em fortalecimento da ligação entre massas agastadas com o P-M e a força política a que foi atribuída a iniciativa de resistência a ele.
Entretanto, creio que o jogo é outro - o de lembrar à Esquerda do seu próprio partido que as regras de oposição dos Comunistas são diversas das suas, bem como de fortalecer um gregarismo em torno da etiqueta atacada na rua. É um Democrata, com o "nós e os outros" sempre na boca, a compensar a fachada do "interesse do País".