quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Retocar as Ruínas

Caveira e Batom, de Zack Zdrale
A todos os títulos inesperada, a verificação de que os cosméticos são indicadores seguros de crises económicas, embora no sentido inverso do lógico, a sua procura aumenta consideravelmente durante os períodos de maiores dificuldades. Pensando bem, é natural que as pessoas sintam a necessidade de se transformar precisamente quando tudo à sua volta tenda a tornar-se insuportável. E as Mulheres, vendo a vulnerabilidade de tanto homem na fossa, após uma derrota na bolsa, ou economias de uma vida arrastadas nalguma falência, podem crer chegada a hora de se fazer valer, nuns casos como compensação genuinamente altruísta, noutros por verem a concorrência de apelos diferentes empalidecer. Oscar Wilde dizia que nada há de tão essencial como o supérfluo. E, no fim de contas, é quando sentem ameaçado um estilo de vida que as gentes se tentam sossegar, atestando da boca para fora mas sem palavreado tornado inaudível, que a ameaça não lhes retirou a aptidão de consumir estes bens metamorfoseados em de primeira necessidade pelas susceptibilidades, quer próprias, quer sociais.

34 comentários:

Ka disse...

Tenho uma amiga que defende a velha máximda de quanto mais na fossa melhor temos de estar e de certa forma ela tem razão.

A nossa aparência é um ponto sobre o qual temos mais controle para tornar melhor ou pior consoante o cuidado ou desleixo :)

Beijinho

Patti disse...

As mulheres e as crises andam sempre de mãos dadas. Velhas amigas que se entendem melhor que ninguém.

Repare bem numa mulher acabada de sair de um divórcio.
Ela põe-se logo gira que se farta, que a vida não é para tristezas e toca a arrebitar porqeue há muito ainda para fazer e responsabilidades dobradas: casa, emprego, gerir os euros que escasseiam, filhos e problemas de filhos, escola, amigas, saídas e jantares e novo homem, quiçá! Se bem que lhe diga, que 'novo homem' vem quase sempre no fim da lista.

E ele? Anda para ali aos caídos, com ar de cãozinho abandonado, à espera de uma festa no pelo.
Os caros comentadores que me desculpem a metáfora, mas crises para nós, é com uma perna às costas. Com batom ou sem ele.

Luísa A. disse...

E há, para além das explicações psicológicas correctíssimas da Ka e da Patti, a explicação muito física e prosaica de que as crises – e o estado de nervos que lhes está naturalmente associado - desidratam a pele e fazem cieiro, meu caro Paulo. ;-D

Safira disse...

Aparecerão sempre umas olheirinhas extras em tempo de crise, não é?
E convírá disfarçá-las. A cosmética, para além de criar a ilusão de ver o que lá não está (um lábio mais carnudo, um olhar mais profundo), também cria uma certa máscara para que não se veja o que afinal vai no convento.

Em tudo semlhante às empresas que, em tempo de vacas magras, trocam a frota de carros para que os parceiros não os comecem a olhar de lado. A opulência tende a mascarar a decadência. Assim é com a maquilhagem: muito 'pó' costuma ser geralmente sinal de pouca uva...

Beijinho, desta que lhe escreve apenas com um bom hidratante de rosto ;) (pronto, ok, e um subtil risco preto nos olhos) (vá, e o batomzinho, ou o que sobrou da aplicação da manhã, que não temos pachorra para os retoques depois de almoço!)

PS: 'roubei' a caveira, que o jogo de luzes é um exercício fabuloso para o meu miserável domínio das sombras. Obrigada! ;)

margarida disse...

E existe a excepção à regra.
Porque se o golpe/a crise/a maleita/o penar/a situação (riscar o que não interessa) for de molde a deixar tudo em pandemónio, não há maquilhagem que resulte.
Aliás, nem há ânimo para maquilhagem, quanto mais...

Pedro Barbosa Pinto disse...

- Ó António, tens que pôr um pouco mais de base nessa face para ficar mais rosadinha. Passa um pouco de batom nos lábios que estão muito brancos. E não te esqueças de engraxar os sapatos antes de lhos calçares. O fato já chegou da lavandaria?
A morte é a pior das crises!
Quero ser cremado com um €uro debaixo da língua para entregar a Caronte.

Anónimo disse...

Como de crises elas (dizem em tom incontestável) é que sabem é melhor estar calado!

Grande Oscar Wilde!
Genial citação! Acaba de me dar o melhor alibi para justificar a minha permanente e incessante compra de livros, música e filmes que se vão (des)arrumando pela casa.

Ou, por outro lado, será que devo começar a frequentar os Consumidores Anónimos ou enviar pedidos de ajuda para a imprensa da especialidade?

Abraço.

Patti disse...

Permita-me Mialgia, mas essas suas compras compulsivas, serão tudo menos supérfluas. Digo mesmo essenciais. Um verdadeiro sustento.

E agora vejo que a sua foto é do meu ídolo-BD, o Fantasma montado no Herói, só lhe falta Devil, o lobo.

Anónimo disse...

Vale a pena lembrar, meu caro Paulo, que as épocas de crise também saõ aquelas em que as pessoas mais arriscam nos jogos de fortuna e azar.
No fundo, é também uma forma de cosmética com que muitos tentam encontrar vias alternativas para disfarçar a crise.

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Ka,
na verdade, uma Mulher compostinha disfarça as ansiedades dela e dá ânimo a muitos homens, embora não tantos como devia, "nos dias que correm"...
A Sua Amiga está carregada de razão.

Querida Patti,
as Mulheres são Animais de extremos: ora (a maioria, quero crer) arrebitam muito mais facilmente do que os homens, tocando o barco para a frente, ora se deixam cair com mais facilidade em depressões tremendas, em que os machos, apesar de tudo, não são tão useiros e vezeiros, talvez porque os hábitos de beber em público e o escape sexual tenham sido alvo de elaborações sociais diferentes, nos últimos dois séculos.
Uma outra diferença - quando um quer romper e o outro não, Vocês são muito mais inflexíveis, enquanto que, entre nós, a menos que haja moira na costa, muitas vezes, uma choradeira da Contraparte lá faz voltar tudo para trás...

Querida Luísa,
essa está fabulosa! Sobre os sacrifícios femininos que a preocupação com a imagem comportam, "obriga-me" a escrever de seguida mais um post.
Beijinho

Querida Margarida,
essa é a oposição paroxística que referi na resposta à Patti, ainda que não tenha sido dado o passinho que conduza à certificação clínica que é o diagnóstico...

Meu Caro Pedro Barbosa Pinto,
ai se é! Como oiço sempre a um Primo meu, "detesto enterros, nem ao meu ia, se pudesse!". E a barca que refere em versão pré-Cristã mereceu, revista e actualizada por Mestre Gil, Auto justamente celebrado, com sátira a uma pobre barcarola que é a vida.

Meu Caro Mialgia, como os Consumidores Anónimos, em paralelo com os alcoólicos, são uma espécie de arrependidos, semelhantíssima à da Justiça Penal, denunciantes de si, muito embora, não faça tal. Com o consumo que indicou e que me é comum, o mandamento é perserverar no vício. Wilde sabia-a toda, pena que lhe desse mais para as gravatas.
Beijinhos e abraços

Paulo Cunha Porto disse...

É bem verdade, Meu Caro Carlos, um pouco como se tivessem de provar que a Sorte não os esqueceu e que o desastre sofrido tinha uma motivação...
Abraço

Patti disse...

Também é verdade essa da nossa inflexibilidade. Concordo inteiramente.

Mas também é verdade que os homens SÓ saem de casa quando há moura na costa, de resto p'ra lá ficam, muito mais entregues ao comodimso e à languidez da vida.

margarida disse...

Irresistível comentar a nota da Patti...
Os homens só deixam a mãe por outra como ela, e só a deixam a ela por outra, já diferente.
Os homens só gastam se for para eles (mesmo que não pareça) e só gostam, se for por eles.
Os homens só querem enquanto não têm.
Só dão para tomar.
Só tomam para largar.
Os homens são um vício doloroso.
Um karma.
Uma inevitabilidade cruel.
(que grande debate teríamos, meu amigo, que grande debate...)

margarida disse...

"Quem é o Carlos Barbosa de Oliveira?", pensei...
E fui ver...

Que lindo...
(mas é homem, pronto, tá tramado! :( )

Anónimo disse...

Obrigado pelo seu apoio, Patti :-)

Estava em crer que o Fantasma e outros fosse apenas leitura de rapazes. Hesitei entre ele e o Mandrake, mas como não ostento pilosidade suplementar no lábio superior a escolha ficou facilitada. E o Devil está lá, mas num plano mais baixo. Por isso não se vê.


It takes one to know one, Paulo.
E já que fala em gravatas, também tenho um pequeno problema com esse adereço, embora esteja controlado...

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Safira,
perdão, tinha saltado um comentário que me deu tanta alegria, o da Sua maquilhagem tentatuvamente minimalista revelada aos povos...
E leve tudo aquilo em que encontre proveito, Querida Amiga, sei bem que a Sua Arte fará milagres com esses motes.

Querida Patti,
tenencialmente é assim, mas conheço um ou dois casos de pura saturação com o que antes lhes parecia o supra-sumo da Atracção.

Querida Margarida,
os homens são afinal a peculiaridade poluente que a ASAE ainda não controla.
Ao contrário de Vós, Que sois o Gel com Que se lava a alma. Digam lá que tudo o que é pegajoso é de evitar!
O Carlos é do Melhor Que há. Fico feliz da vida por ter feito a apresentação. E é tão bom ser tramado por Si...
Beijinhos

Paulo Cunha Porto disse...

Ehehehehe, Caro Mialgia,
Amigas minhas dizem que também tenho nímero exagerado delas, mas o Wilde era pletórico!
Abraço

Nelsinho disse...

Prezado Paulo,

Não asseguro ser desinteresse, o que já é alguma coisa de positivo!
Mas confesso que os meus cíclicos afastamentos têm-se alongado...

Li seus mais recentes posts com muita atenção, mesmo aqueles contendo o cotidiano nesse lado, porque eles de alguma forma me afetam, embora eu desconheça os pormenores!

Um grande abraço e a minha admiração!

margarida disse...

O Nelsinho também é muito giro!

cristina ribeiro disse...

Another off topic (já está habituado, não é, Paulo? :) )

O escrito lembrou-me aquele expediente,lido já não me lembro onde, a que recorreram as mulheres durante a II Guerra Mundial de pintarem um risco na perna, para darem a impressão dos collants que não havia...

Paulo Cunha Porto disse...

Meu Caro Nelsinho,
cada vinda Sua cá é grande recompensa, cada período de ausência, embora sentido com tristeza, não deixa de ser respeitado. Mas hoje o Amigo veio visitar esta choça, hip nip hurrah!

Querida Margarida,
é uma Devoradora, nenhum dos Meus Amigos Lhe escapa!

Patti disse...

O Mandrake Mialgia? E aquela capa negro-azul. É outro dos meus heróis, com aquele companheiro dele careca e forte, como se chamava?
Só falta dizer que também gosta do Quarteto Fantástico!
E hoje falo deles todos no meu Ares!
Há coincidências sim, há, há!

Mas este post não era sobre batons?

Anónimo disse...

Era o Lothario, Patti. Mas este não era o sedutor...

Mandrake faz um gesto hipnótico e... Lembra-se?

No QF é que já não a acompanho. Mais Batman, Super-Homem, Capitão América, etc.

Já vou passar pelo seu "estabelecimento". Obrigado.

LADY-BIRD, ANTITABÁGIKA, FÃ DO JOMI LOL E JÁ AGORA DOS NOSSOS AMIGOS ANTI-TECNOLOGIAS: MARCHANTE (se não existissem tinham que ser inventados) disse...

Caro Paulo,
Ao Natural é que é bonito... mas hoje em dia só se encontram "ao natural" na Maternidade, já que chegando ao jardim de infância já ninguém as agarra, pois até as miúdas de 3 anos têm maquilhagem da Floribela e afins...
Começam desde piquenas... (como diz a Ferreira Leite)

Beijinho

Gi disse...

Então deve ser por isso que os esta nova classe de homens "os metrossexuais" também se dedicam à cosmética, para combater as dificuldades.

Maria de Fátima Filipe disse...

Querido Paulo Oscar Wilde sabia bem do que falava. Não há nada que me ponha mais em pânico quando faço uma viagem, do que pensar que a mala se pode extraviar e eu fico sem os meus queridos de cremes loções e tónicos que carrego comigo seja por um dia ou para um mês, é igual :)

ana v. disse...

Não partilho aquele pessimismo exacerbado da Margarida quanto aos homens. São uma inevitabilidade, concordo, mas não necessariamente dolorosa e muito menos cruel... até porque são muito mais inofensivos do que nós, mulheres, que até temos os cosméticos para os nossos "transformismos" de estimação. ;-)

Quanto às "choradeiras" das contrapartes, Paulo... já passaram de moda há algum tempo. Elas já não os querem de volta por piedade ou por dependência, ficam muito bem sozinhas (ou não...)

ana v. disse...

Oh, Mialgia, esses heróis não eram só leituras de rapazes... não imagina como eu gostava do Mandrake e dos seus passes de magia! E também do Sandokan, o Tigre da Malásia, que me fazia viajar para locais exóticos e míticos...
E por aí me fico em banda desenhada, com as honrosas excepções dos meus queridos Astérix e Tintim.

Anónimo disse...

É curioso, Ana, como alguns heróis, aparentemente dirigidos a um universo infanto-juvenil masculino também captaram o interesse feminino.

É o apelo à fantasia e ao escapismo. Mas muitos dos super-heróis de hoje orbitam numa esfera mais realista: envelhecem, têm problemas familiares, existenciais, etc. Sinais do tempo. Mas isso, como alguém, é outro debate e não tem nada a ver com cremes e batons :-)

Nuno Castelo-Branco disse...

Oi Paulo, ontem contaram-me uma boa. No cemitério de Lisboa (qual deles?), os coveiros que iam retirar ossads, apanharam um susto de MORTE, porque sobre os pobres despojos do cadáver, estavam duas rechonchudas mamocas em MUITO BOM estado de conservação, eheheheheeh. Eram próteses de silicone. Que Vanitas fabulosa!

Marie Tourvel disse...

Tempos de crise -e ela me pegou, servem para reflexão e... choradeira também. Nós, mulheres, só pedimos colo. É pedir muito?
Beijinho

margarida disse...

Ana querida, fico feliz pelo seu optimismo e até concordarei... daqui a mais uns tempos.
No momento apetecia-me mais uma Glock.
Devaneios...
Marie, pois é, 'colo', mas o que ainda é mais importante: respeito.
Isto anda tudo ligado...

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Lasy Bird,
é verdade que são precoces, mas não será para brincarem às mães, reproduzindo as paletas em que elas se tornam?

Querida Gi,
por isso é que dizem que os metro... não têm sexo definido. Só que enquanto que isso, outrora, era apanágio dos anjos, é agora característico destes... anjinhos, veja a soma do que eles gastam na própria imagem.

Meu Caro Nuno,
essa parece-me uma vingança ainda maior do que a do conto do Eça, «A Morta?. O que é a mordedura deum bicho, comparada com uma desilusão tal?

Querida Marie,
mas as Meninas pedem colo a tempo inteiro, por a necessidade de ternura ser muito mais vincada no Vosso normal. Nas situações de sofrimento tendes muito mais capacidade de aguentar do que estes chorões da vida que somos. A mnos que os nervos cedam de vez. E aí ainda é mais radical a pena.

Querida Margarida,
o mal é o Belo Sexo não conseguir ser pessimista. Passa a vida a levantar-se dos abanões.
Beijinhos e abraços

ana v. disse...

Ah, Margarida, ainda bem que é só uma fase. Eles não merecem um pessimismo em permanência, acredite. ;-)

Quanto a ti, Paulinho, como representante da outra metade da humanidade devias estar feliz e satisfeito com a nossa capacidade de recuperação... ou preferias o contrário?