sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Perder a Razão?

Quando Joseph de Maistre despromoveu os adeptos da Revolução Francesa, dizendo-lhes Nada tendes por vós, salvo a Razão, não estava a diminuir o processo racional, mas antes a exprimir a concepção comum a qualquer ser humamo que se sente constrangido diante de alguém que não amenize o raciocínio estrito com heranças, gostos arbitrários, fidelidades, sentimentos, enfim. Daí surgiu a expressão de clivagem Fulano é um monstro de racionalidade.
Como também na Religião Católica sempre se procurou reconhecer-lhe um papel importante, mas sem cair na armadilha da exclusividade. Numa historinha do Padre Brown, ao ser perguntado pelo maior ladrão do Mundo como descobrira o sacerdote criado por Chesterton o seu disfarce de vigário, a resposta é Você atacou a Razão. Isso é má Teologia.
Vem agora um estudo científico dizer-nos que o Amor e o Odio fazem muito do seu percurso pelo mesmo caminho. Nada que não fosse já sabido, frequentemente um se transforma no outro, embora mais amiúde o positivo no negativo. Mas ensina mais, que a principal diferença está na maior racionalidade comparativa do sentimento adverso. O que vem confirmar a intuição de arrepiar-se perante um ser demasiado racionall, que não quer dizer demasiado razoável.
Mas que o terreno é movediço já ensinava Mitchum, o dos dedos tatuados, em «The Night of The Hunter", de Laughton, filme em que gosto de o ver, coisa que não acontece em todos os que fez.

6 comentários:

CPrice disse...

a um ser racional eu prefiro um razoável .. aliás sempre desconfiei e ultimamente com muito mais razão de pessoas que reduzem tudo a formulas de "no care" .. ;)
Mas isso sou eu que além de Amar, não odeio ninguém ;)

Ficam um votos de um Santo Fim de de Semana Meu Amigo *

cristina ribeiro disse...

No blogue « Pensamentos», li um pensamento que faz pensar: «Quando o coração quer decidir,é melhor que decida a cabeça»; e cedências de parte a parte, não? Aquela história de"cabeça nas nuvens mas pés no chão" adaptada ao órgão dito despertador da amor.
Beijo

Anónimo disse...

Meu Caro Paulo,
Entendo que não se deve confundir a Teologia (como sabes, em tempo fui um velho teólogo), enquanto ciência, com a Religião Católica (um dia destes voltamos a este assunto).
Também me parece que a "racionalidade" nunca poderá sustentar aquilo que na sua génese é um "acto de Fé", antes pelo contrário, uma coisa quase repele a outra.
Tanto assim que os actos tendencialmente racionalistas da Igreja Católica (celibato dos padres, proibição do Sacramento da comunhão aos divorciados, não acesso das mulheres a Ministros da Igreja ...) não se coadunam, de todo, com os ensinamentos de Cristo, isto é, com a Religião Católica.
Como dizia um filósofo alemão do sec. XIX, "perdi a racionalidade, converti-me ao Catolicismo".
Um abraço, e um bom fim de semana.
Fernando Carvalho

Paulo Cunha Porto disse...

É um Privilégio ter por Amiga um Once assim. E concordo que a Razão é a cortina que tapa muitas atitudes que dão aos outros ... razões de queixa...

Querida Cristina,
o que achei mais interessante no estudo foi a componente racional do Ódio, o que vem pôr um tanto em questão a recomendabilidade do racionalismo exaustivo, já que a melhor parte de nós lhe é subtraída. Mas claro que a citação que deixa amputa o cancro do devaneio que pode ser saboroso, mas, não raro, conduz a desilusão e a irresponsabilidade.

Meu Caro Fernando,
não confundo questões disciplinares como o celibato com decorrências dogmáticas como a não-ordenação feminina, ou de administração paroquial de geometria variável como a participação dos divorciados nos Sacramentos. Nem misturo estas com o que referia, quer dizer, a procura paralela de Deus pela actividade Racional, que S. Tomás queria e me parece indissociável da Dignidade do Homem, ao contrário da aceitação de Deus como Numinoso, própria de outros credos.
E não assimilo Teologia a Religião. Mas tratando-se de discussão dogmática entre "dois" Padres, como as personagens do conto, era da primeira que (também) se tratava.
Beijo e abraços

Luísa A. disse...

......
Mas é natural que tentemos justificar – e, consequentemente, racionalizar - os nossos ódios e outros impulsos negativos, Paulo, ao contrário dos positivos, que é bom que pareçam espontâneos (e poéticos). A racionalização dos negativos é a forma que temos de nos auto-desculpar e de nos afirmar evoluídos; ou seja, de nos distinguir dos primitivos selvagens… para não dizer dos primitivos dinossauros. Falei! ;-D

Paulo Cunha Porto disse...

e Disse, Querida Luísa.
Claro que é um sucedâneo, o ideal seria mesmo não alimenntar ódios, não? Faz-me lembrar o sujeito que entra no comboio a dizer que é melhor andar a pedir do que a roubar. Nada de terceiras alternativas!
Beijinho